O IBGE divulgou um levantamento
que deixou muitos recém-casados preocupados. Segundo os dados, a cada
quatro uniões, pelo menos uma termina algum tempo depois. Além disso, o
número de divórcios bateu seu recorde no Brasil há dois anos, fato que
não acontecia desde 1984. Ao todo, foram registrados 243.224 processos
judiciais do tipo no período, o que equivale a uma taxa de 1,8 a cada
mil habitantes do país.
Não é de hoje que o aumento de separações
chama a atenção da população, e mais especificamente, de especialistas
ao redor do mundo. Tanto que, de um tempo para cá, vem surgindo uma
série de pesquisas que tenta mapear quais são os fatores que influenciam
o fim do matrimônio.
Esses estudos mostram que os hábitos do
casal, a condição financeira, a profissão que cada um segue e até o
ambiente onde os dois vivem podem contribuir para que o relacionamento
acabe. Confira a seguir o que os dados têm a dizer sobre o divórcio e
descubra se o seu casamento pode estar em risco.
Onde vocês se conheceram?
Para saber se a relação vai durar, os pesquisadores não deixaram de conferir como o casal se conheceu. O responsável por esse levantamento
foi o site de relacionamentos eHarmony, que buscou mapear, em fevereiro
de 2011, quais os locais de encontro que geram maiores índices de
divórcio.
Para tanto, eles compararam a estimativa de separações
de parceiros que se conheceram na escola, no trabalho, na igreja, em
bares e outros com os dados da realidade. Na maioria dos casos, a
previsão se mostrou correta com o que estava ocorrendo de fato, exceto
por dois ambientes: o escolar e os bares.
No caso do primeiro, a
estudo mostrou que os casais que se conhecem em colégios e faculdades
tendem a se separar com 41% menos frequência do que o esperado. Já no
segundo contexto, os números não são favoráveis: aqueles que se
conheceram em baladas pedem o divórcio 24% mais vezes que o estimado.
A influência do ambiente
Na
verdade, não é apenas o local onde vocês se conheceram que a faz a
diferença na probabilidade da separação. As características do país e a
forma como os habitantes encaram o divórcio também influenciam o
relacionamento.
Uma pesquisa
realizada pelo Census Bureau com base no censo americano de 2009 e
publicada em maio de 2010 apontou que os casais que vivem em locais mais
liberais possuem uma probabilidade menor de recorrer ao divórcio, ao
contrário do que se imaginava.
E, ao que parece, o cenário é positivo para os brasileiros. Outro estudo
realizado pela Universidade de Granada (Espanha) e publicado em 2009 na
Revista Espanhola de Investigações Sociológicas, o Brasil é o país que
aceita melhor o divórcio, quando comparado a outros 35 destinos pelo
mundo.
Entre os entrevistados do país, 85% revelaram que acham que
a separação é a saída para quando o casamento vai mal. Somente 12%
afirmaram preferir manter a relação, mesmo quando ela não está bem.
A
pesquisa constatou ainda que Espanha, Portugal, Áustria e Chile são os
outros locais que aceitam melhor o divórcio. Já o Japão ficou em último
lugar da lista: lá, apenas 30% dos participantes foram favoráveis à
separação.
O levantamento revelou também que, independente do
país, aqueles que são contra o divórcio tendem a ser os que vão sempre à
igreja, viúvos, menores de 15 anos e maiores de 65. Em contrapartida,
as mulheres com mais de 25 anos, formação superior, que frequentam pouco
as cerimônias religiosas e seguem os ideais de esquerda são as mais
favoráveis à separação.
Quanto mais eles ajudam em casa, melhor
Muitas
pessoas acreditam que a igualdade conquistada pelas mulheres no mercado
de trabalho em relação aos homens pode ter contribuído para o aumento
do número de divórcios. No entanto, uma pesquisa da London School of
Economics feita em 2010 revelou que a realidade não coincide com esse
pensamento.
Isso
porque os especialistas descobriram que o stress acumulado por elas
durante o expediente é compensado pela divisão das tarefas em casa.
Assim, segundo informações do The Telegraph, quanto mais os maridos ajudam com a arrumação da bagunça ou cuidando das crianças, maior a probabilidade de o casamento durar.
Em
contrapartida, as famílias que seguem o modelo tradicional de
relacionamento, em que o parceiro pouco contribui no trabalho, tendem a
possuir um índice maior de divórcios, conforme revelou o estudo,
chegando até mesmo a duplicar.
Para a psicóloga Aline Michelin,
graduada pela PUC-PR, a parceria no trabalho doméstico e em outros
pontos do relacionamento é sempre positiva e favorável à duração da
relação. “Se algum dos dois se sente injustiçado (seja na divisão de
tarefas, das contas ou de outros aspectos), isso será negativo para o
casal, podendo gerar conflito, culpa e ressentimento”, explica ela.
Afaste-se dos amigos divorciados
Pode
parecer inadequado, mas se afastar de um casal que acabou de se separar
contribui para que o seu relacionamento dure mais. A constatação é de
uma pesquisa realizada pela Universidade da Califórnia, em 2010, que
descobriu que o risco de separação pode se espalhar entre amigos e
familiares, afetando relações com até dois graus de distância.
De acordo com o artigo
publicado pela CNN, o contato com recém-divorciados aumenta em até 22% o
risco de você seguir pelo mesmo caminho, sendo encorajado pelo
comportamento do outro.
Deixe o cigarro
O cigarro pode ser prejudicial não apenas à sua saúde, mas também ao seu relacionamento. Uma pesquisa
feita pelo ANU College of Business and Economics e publicada em 2010
descobriu que o fato de apenas um parceiro fumar é mais prejudicial ao
casamento do que ter religiões diferentes ou até mesmo divergentes
opiniões sobre filhos.
O levantamento revelou que o desacordo
sobre o cigarro leva os casais a ter entre 76 e 95% maiores chances de
se divorciar, principalmente quando é a esposa quem possui o hábito.
Escolha o emprego certo
A profissão escolhida por você também faz a diferença em seu casamento. Uma análise
do censo americano de 2000 feita pela Radford University e divulgada
pelo Journal of Police and Criminal Psychology em 2010 descobriu que
algumas atividades diminuem o risco de divórcios.
Esse é o caso
daqueles que exercem cargos relacionados à religião, motoristas de
ônibus e de carros de polícia, engenheiros agrícolas e nucleares. Nesses
casos, a taxa de separação fica restrita a apenas 4%. Em contrapartida,
massagistas, treinadores de animais e matemáticos formam o topo da
lista dos mais divorciados.
Porém, se você acha que o seu trabalho pode facilitar a ocorrência do divórcio, saiba que o desemprego pode ser pior. Um estudo
feito em junho de 2011 na Ohio State University revelou que homens
desempregados correm mais riscos de receberem um pedido de separação de
suas esposas, bem como de optarem pelo desquite.
Em entrevista ao Huffington Post,
a líder da pesquisa, Liana Sayer, afirmou que o desemprego do marido
remete aos parceiros o conceito de como um casamento deveria ser e, ao
que parece, a situação seria inadequada para as expectativas.
Casamentos mais fortes em classes mais altas
Ao
que parece, o dinheiro pode influenciar mais do que se imagina na
ocorrência de divórcios. De acordo com um estudo feito em 2010 em
parceria entre a Universidade de Virginia e o New York’s Center for
Marriage and Families at the Institute for American Values, quanto mais
ricos e escolarizados forem os membros do casal, mais duradouro será o
casamento.
Em contrapartida, segundo informações do Huffington Post,
a classe média americana apresenta uma taxa maior quanto ao risco do
divórcio, que chega a 58%. Nos primeiros 10 anos de casamento, o público
com escolaridade mediana tem 36% de chance de se separar, enquanto
entre os mais instruídos esse índice fica apenas em 11%.
Outro estudo,
feito pela Universidade de Missouri e publicado em setembro de 2011,
confirmou a influência do dinheiro no casamento. Os pesquisadores
conversaram com 295 casais com renda anual de até 20 mil dólares por
ano, sendo que alguns recebiam ajuda do governo para o sustento. Entre
esses últimos, foi possível notar um baixo nível de satisfação com o
casamento quando comparados aos demais, que conseguiam arrecadar a renda
sozinhos.
Para o pesquisador David Schramm, em entrevista ao Huffington Post,
isso se explica por que o trabalho gera satisfação, evitando que
qualquer um dos membros do casal se sinta inferiorizado por não
conseguir sustentar a sua família, o que leva ao stress e ao desgaste da
relação.
A perda da virgindade influencia o divórcio
Parece
que nenhum detalhe da vida dos casais foi esquecido pelos
pesquisadores. Na Universidade de Iowa (Estados Unidos), os
especialistas descobriram que quanto mais cedo as mulheres perdem a virgindade, mais propensas elas são ao divórcio.
O
estudo, que foi publicado em junho de 2011, contou com a participação
de 3.793 entrevistadas. Entre elas, 47% das que perderam a virgindade
antes dos 16 anos tendem a recorrer à separação antes de completar 10
anos de matrimônio.
Mas isso não significa que o sexo foi o motivo
do fim do relacionamento. Na verdade, ele foi um dos itens menos
citados pelas participantes. Assim, segundo matéria do jornal Huffington Post,
é possível constatar que a pesquisa trata mais da influência negativa
que as primeiras experiências sexuais trouxeram, mas os romances
posteriores, que para a quantidade de relações propriamente dita.
Quanto mais jovens, pior a separação
Se
você pensa que é para os casais com mais idade e tradição que o
processo de divórcio fica pior, está enganada. Os parceiros mais jovens
têm mais problemas em encarar a separação e, inclusive, são detectados
mais efeitos negativos na saúde deles do que dos demais.
A
descoberta veio neste ano da Universidade de Michigan (Estados Unidos) e
surpreendeu até mesmo os pesquisadores. De acordo com a médica Hui Liu,
em entrevista ao Daily Mail,
esse não era o resultado estimado. “Nós esperávamos que o divórcio
fosse menos estressante para os jovens, pois é mais comum hoje”.
Ao
todo, 1.200 pessoas com idade entre 25 e 83 anos foram analisadas ao
longo de 15 anos. Nesse período, elas tinham que classificar seu estado
de saúde, que foi relacionado com a situação conjugal. Entre eles,
aqueles que tinham entre 35 e 41 demonstraram piores condições de saúde
após o divórcio. Os mais velhos, em contrapartida, viam o fim do
casamento com alívio.
Para Aline Michelin, é possível justificar o
resultado da pesquisa também pela expectativa que os parceiros
depositaram na relação. “O que se observa é que os casais mais jovens
são os que têm relacionamentos mais novos, geralmente com um grau de
expectativa maior. Desta forma, quando esta expectativa não é atingida, o
sofrimento tende a ser mais intenso”, complementa.
A psicóloga
ressalta ainda que isso não quer dizer que os mais velhos não sofram. No
caso deles, é preciso lidar ainda com os filhos, com o fim de uma
rotina que se repetia há anos e até com os bens adquiridos juntos ao
longo da vida, o que também é muito difícil. “Tanto a separação quanto o
recomeço estão mais ligados à história de cada casal do que à idade”,
afirma.
Até que a morte os separe?
O juramento feito na Igreja Católica nunca pareceu tão inapropriado. Uma pesquisa realizada em 2010 pelo Núcleo de Estudos de População da Unicamp concluiu que a religião não influencia a decisão de quem pretende se divorciar.
Segundo
o estudo, a proporção das mulheres separadas em cada igreja é muito
similar, o que significa que hoje a prioridade é que o casal seja feliz.
Assim,
na hora de elas decidirem pelo divórcio, outros fatores influenciam
mais que a religião. Entre eles, estão os filhos e a dependência
econômica que muitas têm em relação ao marido.
Os filhos fazem a diferença
Os filhos do casal influenciam muito a probabilidade de divórcio. Um estudo
da University of California-San Diego publicado em 2007 revelou que o
sexo das crianças faz toda a diferença na decisão da separação.
Depois
de analisar o comportamento de 3 milhões de casais, os pesquisadores
descobriram que ter uma menina aumenta as chances de divórcio para os
pais em 5%. E se o número for de três garotas, o índice sobe para 10%.
Em contrapartida, se as 52 mil primogênitas tivessem nascido meninos,
provavelmente ainda seriam filhas de pais casados até os 12 anos de
idade.
A
explicação para o resultado é simples: as mulheres ficam mais dispostas
a desistir de um casamento ruim tendo a companhia de uma menina. Esta
teoria também é comprovada por números, já que 73% dos divórcios em
casamentos com filhos do sexo feminino são requisitados pelas esposas.
Mas não é apenas o sexo da criança que influencia na taxa de separação. De acordo com um estudo
da Western Reserve University, publicado em abril de 2011, as mães de
gêmeos são mais propensas ao divórcio que as demais. A diferença, no
entanto, não é expressiva, chegando a apenas 1% entre os dois grupos. A
justificativa pode estar no stress que criar duas crianças ao mesmo
tempo gera na família, prejudicando o casamento.
Porém, não são somente os filhos que influenciam o divórcio: eles também são influenciados pelo processo. Uma pesquisa
da Universidade de Wisconsin-Madison alerta que os filhos pequenos que
veem a separação dos pais sofrem queda no desempenho escolar e
dificuldade para formar uma vida social.
O resultado foi
publicado no periódico especializado American Sociological Review, em
2011. Ao todo, 3.500 crianças foram analisadas em um período de quatro
anos. Ao fim, foi possível perceber que aquelas que possuíam pais
separados sofriam de ansiedade, tristeza e solidão, o que justifica o
distanciamento com os amigos e os problemas acadêmicos.
Mas nem
tudo está perdido: após um tempo (variável) passado do divórcio, a
tendência é que esses filhos voltem a ter um comportamento normal.
Vale
lembrar, no entanto, que os pais podem tornar o processo da separação
menos doloroso para os filhos. Segundo Aline, é importante deixar claro
para as crianças que a relação entre o casal terminou, mas que o
relacionamento entre pai e filho nunca terminará.
Para
ela, os pequenos tendem a ser subestimados, como se não entendessem o
que está acontecendo. Mas, na verdade, ao presenciar as agressões entre o
casal, eles podem vir a ter os desvios de comportamento relatados na
pesquisa. Assim, o melhor é ser honesto com os filhos, mas sem que eles
precisem participar ativamente das decisões.
“Permitir que os
filhos falem com o outro sempre que quiserem, que combinem programas e
viagens com ele e evitar fazer críticas e comentários negativos a
respeito do outro torna a criança mais segura. Casamentos passam, mas
filhos permanecem – e saber que estão sendo bem criados é uma das
maiores fontes de satisfação para o ex-casal”, finaliza ela.
Divórcio faz mal à saúde
Não são apenas os pequenos que sofrem as consequências do divórcio. A Universidade de Chicago descobriu que
os divorciados possuem maior chance de desenvolver doenças crônicas,
como o câncer. O percentual era 20% maior que entre aqueles que nunca
casaram.
O estudo foi publicado na revista científica Journal of
Health and Social Behavior em 2009. Foram analisadas mais de 8.652
pessoas com idades entre 51 e 61 anos. Entre as divorciadas, aquelas que
casaram novamente têm o risco diminuído para 12%.
Vale
ressaltar, no entanto, que o resultado é influenciado pelo stress
passado na época da separação e independe da felicidade conquistada após
esse período.

O impacto do divórcio na aparência
Um estudo
realizado pela American Society of Plastic Surgeons em setembro de 2011
mapeou o desgaste do divórcio para a beleza feminina. Segundo o médico
que liderou o levantamento, Bahman Guyurin, as mulheres desquitadas
tendem a perder mais cabelo, enquanto os homens na mesma situação não
sofrem do distúrbio. Em entrevista ao Huffington Post, ele justificou dizendo que a separação é mais estressante para as esposas que para os parceiros.
Mas
não é apenas neste aspecto que elas ficam em desvantagem. Depois de
divorciados, os homens aumentam a prática de exercícios físicos,
conquistando um corpo em forma em relação ao período em que estiveram
casados. A conclusão é de uma pesquisa publicada em 2010 no periódico
American Journal of Epidemiology.
Em contrapartida, segundo o Daily Mail, as mulheres vivem a situação oposta e, muitas vezes,veem a silhueta ficar maior depois do fim do casamento.
Para
Aline, no entanto, o aumento de peso das mulheres não é regra na
prática. Isso porque o modo de encarar as mudanças é diferente para cada
indivíduo. “Há aquelas que enfrentam o fim de forma mais ‘reclusa’, o
que pode acarretar o aumento de peso. Entretanto, também é bastante
comum mulheres passarem a cuidar mais de si mesmas depois do fim do
relacionamento. Estas tendem a optar por um discurso semelhante: ‘Me
dedicava tanto à relação, agora vou cuidar de mim’”, exemplifica ela.
A
psicóloga ressalta, ainda, que os cuidados com a aparência entre o
público feminino após o divórcio estão bastante ligados ao significado
que o relacionamento tinha para elas.
Não há uma receita para o relacionamento
Se
você ficou preocupada ao identificar nas pesquisas alguns fatores de
risco que estão presentes em seu casamento, relaxe. De acordo com Aline,
não existe receita pronta, e somente o casal pode definir o que é
proibido e permitido na relação.
“Não diga nada por dizer e não
deixe de dizer o que pensa. Fale de forma simples e se certifique de que
o outro entendeu sua mensagem. É importante que cada casal crie seu
próprio ‘código de ética’”, explica ela.
Por fim, amor e respeito
não podem faltar. Assim, provavelmente seu relacionamento vai durar
mais, independente do que as pesquisas digam.