Conheça o fruto que dá disposição, longevidade e tira a fome

João Rocha, guaranazeiro e morador de Maués, tem 101 anos e muita disposição

João Rocha acorda todos os dias às 5 da manhã para cuidar de sua plantação de guaraná em Maués, cidade do interior do Amazonas, a 267 km de Manaus por via fluvial. Prestes a completar 102 anos, o senhor que aparenta menos idade, dada sua vitalidade, tem andar apressado. Além de o fruto amazônico lhe dar o sustento da família, é a ele que João credita sua disposição. "Tomo só de manhã, com água e açúcar e não sinto mais fome", contou.

O costume de misturar o pó de guaraná com água e açúcar vem dos índios da região que há muito tempo fazem a bebida para ter disposição e energia para caçar e cuidar dos afazeres diários. O que estes índios descobriram há muito tempo tem sido estudado nos últimos anos. Muitas pesquisas são feitas com guaraná para dar crédito científico ao que a sabedoria popular apregoa. É antioxidante, energético, afrodisíaco, tira a fome e é considerado parte do que garante longevidade aos moradores da região amazônica, principalmente a cidade de Maués.

"Observações feitas no município de Maués indicam que o guaraná pode contribuir para a maior longevidade dos idosos. Um estudo conduzido por nós mostrou que isto seria possível já que idosos que consomem habitualmente guaraná tendem a ser menos obesos, ter menores níveis de colesterol, triglicerídeos e também apresentarem menores taxas de estresse oxidativo do que aqueles que nunca consomem este suplemento", explicou a Dra Ivana da Cruz, da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e que conduz pesquisas sobre o fruto desde 2006.

Porém, o guaraná não deve ser consumido em demasia, pois pode causar tremor, aceleração dos batimentos cardíacos e mal-estar. Até 500 mg é uma dosagem segura, mas a Dra Ivana lembra que é preciso tomar cuidado, já que, por poder causar mal-estar, a quantidade pode variar de pessoa para pessoa. "Então, cada pessoa deve buscar a sua dose, que pode ser apenas uma pitada (1/5 de colherinha de café) ou meia colherinha de chá", alertou.

Na casa de João, toda a família consome guaraná, inclusive com açaí, que o agricultor planta para aumentar a produção. Dona Zenaide, de 73 anos, contou que o que colabora bastante para a saúde de seu marido é, também, a alimentação - que é conhecida como dieta amazônica. Por ser um lugar muito quente, os moradores acabam consumindo alimentos de baixa caloria e muito nutritivos como peixes, arroz, feijão, macarrão e mingau de aveia.

Os dois se conheceram graças às plantações de guaraná. "Em 1956, eu trabalhava com isso e ele também. No ano seguinte, ficamos juntos e em 1963, a gente casou. Eu estava grávida de 3 meses", disse Zenaide, que tem sete filhos com o marido. Quando questionado sobre quantos filhos têm, João é enfático: "cinco". Mas é corrigido pelo filho mais velho: "são sete". E o senhor sorridente, se explica: "são cinco filhos e duas filhas".

Formas de consumo
Para conhecer as diversas formas de consumo do guaraná, é importante passar pelo Mercadão de Manaus. Lá, é possível encontrar o fruto em pó, em barra, em cápsula... Mas, dentre todas estas formas, a mais interessante é o guaraná em barra que deve ser ralado em uma língua seca do peixe pirarucu para ser consumido.

Esta barra é feita por defumação. O fruto é colocado em um pau e fica defumando por dias até ficar pronto. Por conta disso, a concentração de guaraná é bem forte e deve ser consumida em pequenas quantidades.

Quando o guaraná já vem em pó, os amazonenses o consomem misturado com água e açúcar. Mas, também, pode ser tomado só com água.