Microbioma reúne identidades genéticas de bactérias, vírus e organismos que habitam harmonicamente o corpo do homem.
"Quando me levanto da minha cadeira, dez vezes mais células bacteriais se levantam comigo do que humanas", diz Bruce Birren.
Ele é um entre centenas de cientistas americanos envolvidos no mapa
mais completo já feito dos micróbios que vivem sobre e dentro do nosso
corpo.
O Projeto Microbioma Humano catalogou a identidade genética de muitas
bactérias, vírus e outros organismos que vivem em contato íntimo
conosco.
Não se trata de germes ou criaturas nocivas que precisam ser
eliminadas mas, sim, de uma parte fundamental daquilo que nos torna
humanos, dizem os pesquisadores.
Ainda assim, até recentemente, pouco se sabia sobre a identidade de trilhões de micróbios que habitavam nosso corpo.
Micróbios Benéficos
Durante séculos, o homem só era capaz de investigar micróbios que
conseguiam sobreviver em laboratórios. E os estudos tinham de ser feitos
isoladamente - frequentemente, um de cada vez.
Mas com o advento de técnicas cada vez mais avançadas de
sequenciamento de DNA, o Projeto Microbioma Humano está sendo capaz de
descobrir micróbios que nunca haviam sido vistos antes e observar como
eles se comportam em comunidades.
Muitos dos resultados do projeto, que terá cinco anos de duração e
foi lançado pelo National Institute of Health, nos Estados Unidos, foram
publicados pelas revistas científicas Nature e Public Library of
Science (PLoS).
Mais de 200 americanos, homens e mulheres, todos saudáveis, tiveram
amostras de micróbios retiradas de várias partes de seus corpos.
E os pesquisadores foram capazes de encontrar mais de dez mil tipos
diferentes de organismos que integram o microbioma saudável humano.
A maioria desses micróbios, aparentemente, não causa qualquer dano ao
organismo. Pelo contrário. Existem cada vez mais evidências de que
esses micróbios nos ajudam de várias formas.
Alguns, por exemplo, nos auxiliam a extrair energia da comida e outros nos ajudam a absorver nutrientes como vitaminas.
Funções Compartilhadas
"Estamos aprendendo sobre o papel que eles desempenham em formar - em
vez de simplesmente atacar - nosso sistema imunológico", diz a
professora Barbara Methe, do J. Craig Venter Institute, também envolvida
no projeto.
Uma das questões centrais que os pesquisadores perguntaram foi:
existe um grupo básico de micróbios que todos os humanos compartilham?
Os cientistas encontraram uma variedade de micróbios em diferentes
seres humanos e comunidades únicas de micróbios vivendo em diferentes
partes do corpo.
Mas o que deixou muitos surpreendidos foi que, em partes específicas
do corpo, muitos dos micróbios compartilhavam funções semelhantes.
"Talvez eu tenha na minha língua um organismo diferente daquele que
você tem na sua língua mas, coletivamente, eles trazem os mesmos genes
para a festa - então eles são capazes de desempenhar algumas das mesmas
funções, por exemplo, quebrar açúcares", diz Birren.
Essa descoberta implica em uma mudança no modelo atual de se pensar
em doenças, onde uma doença é atribuída a um único micróbio.
Lista de Bactérias
Talvez o que importe em algumas doenças não seja um tipo particular
de micróbio mas, sim, que a função desse grupo de micróbios tenha de
alguma forma desaparecido, explica Curtis Huttenhower, da Harvard School
of Public Health.
Os pesquisadores descobriram que voluntários saudáveis carregam
baixos índices de micróbios, tradicionalmente vistos como causadores de
doenças.
Por exemplo, a bactéria Staphylococcus aureus, que pode estar
envolvida na infecção MRSA, foi encontrada nos narizes de cerca de 30%
dos voluntários.
"Agora temos a agenda de endereços de cem desses micróbios que, no ambiente certo, têm potencial para ficar nocivos".
"Sabemos onde eles vivem nas pessoas saudáveis e que organismos os
cercam. Então, talvez possamos começar a entender o que os mantém em
cheque e onde estão seus reservatórios", disse Huttenhower.
Os micróbios carregam muitos genes e esses genes têm tanta capacidade
de influenciar nossa saúde e os riscos de sofrermos de doenças como os
nossos próprios genes, diz Huttenhower.
A longo prazo, a possibilidade de usarmos esse banco de dados
genético como referência e investigar microbiomas que estão fora dele
será muito importante, explica.
Terreno Desconhecido
O diretor do projeto, Lita Proctor, diz que há um entendimento cada
vez maior de que nós adquirimos os nossos micróbios nos primeiros
estágios das nossas vidas.
"O genoma humano é herdado, mas o microbioma humano é adquirido",
explica. "Isso significa que ele tem uma propriedade de se alterar, de
mudar, que é muito importante".
"Isto nos dá algo com que podemos trabalhar na clínica. Se você pode
manipular o microbioma, você pode fazer um microbioma saudável continuar
saudável ou rebalancear um que não está saudável".
Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido. Precisamos descobrir
muito mais sobre como o microbioma se comunica com as células do corpo
humano, diz David Relman, da Universidade de Stanford, nos Estados
Unidos.