A mulher não tem dois tipos de orgasmo, mas pode atingi-lo de duas maneiras
Mesmo com a liberdade sexual conseguida pelas mulheres nas últimas
décadas, os caminhos para a conquista do prazer e do orgasmo continuam
um mistério para muitos. Algumas ideias prevalecem, como a de que
existem dois tipos de orgasmo e que um é melhor do que o outro. Foi
Sigmund Freud o primeiro a fazer essa divisão, ao considerar que a
mulher que se excitava com manipulação do clitóris na juventude deveria,
com o amadurecimento, ter orgasmo vaginal. "Para ele, mulher que não
tivesse o orgasmo obtido com penetração era considerada imatura", afirma
a ginecologista e sexóloga Jaqueline Blender, de Porto Alegre.
Hoje, sabe-se que orgasmo é um só, como explica a ginecologista e
sexóloga Glene Rodrigues. "Ele ocorre no cérebro e se manifesta através
de contrações seguidas pelo relaxamento do corpo, com maior intensidade
na região da pelve e extremidades como pés e mãos. A sensação é uma só,
não há dois tipos de orgasmo. O que existe são locais diferentes que vão
estimulá-lo", diz a especialista, explicando que se convencionou chamar
de vaginal ou clitoriano o orgasmo atingido pelo estímulo de uma ou
outra região.
Como a diferença está em como chegar ao orgasmo, dizer que um é mais
intenso ou prazeroso do que o outro é um mito. De acordo com Glene
Rodrigues, tanto um quanto o outro podem ser leves ou intensos,
dependendo do grau de excitação do momento. "Não depende do local de
estímulo. Isso vale tanto para o vaginal quanto o clitoriano", afirma a
médica. A dúvida é frequente porque a maioria das mulheres chega ao
orgasmo pela estimulação do clitóris.
"Cerca de 30% das mulheres têm orgasmo vaginal. O clitoriano é o mais
comum, por ser um órgão externo, com o qual elas têm contato desde a
infância. A sensação é mais fácil de ser percebida", afirma Glene. "Cada
mulher tem de saber como funciona sua sexualidade. Se ela tem o
clitoriano, esse é o melhor orgasmo para aquela mulher, e o mesmo vale
para o vaginal. Há as que só têm um dos dois e as que têm ambos",
explica a médica. Então, seria essa uma mulher privilegiada, certo? A
resposta é não, de novo. "Ser privilegiada não depende do tipo de
orgasmo, mas de encontrar o parceiro que se adapte ao tipo de orgasmo
que a mulher tem", diz Glene
A insistência no orgasmo vaginal
Por desconhecimento de como funciona a sexualidade feminina, muitos
homens exigem que suas mulheres tenham o orgasmo vaginal. "A mulherada
insiste nesse orgasmo quando o parceiro cobra porque quer agradá-lo",
diz Glene Rodrigues. Mas apenas a penetração não é garantia de prazer.
"Para eles, é difícil ouvir isso, mas penetração sozinha é um estímulo
muito pobre. Para a maioria das mulheres, o clitóris é o personagem
principal para dar prazer”, explica Cristina Romualdo, psicóloga,
terapeuta sexual e autora do livro Masturbação
O orgasmo clitoriano pode ser confundido com o vaginal. "O que
observamos é que, quando a mulher tem orgasmo com penetração, pode
acontecer ao mesmo tempo a estimulação do clitóris pelo órgão masculino.
Portanto, o clitóris é que foi estimulado", conta Ana Canosa. O orgasmo
vaginal é aquele que não tem estímulo do clitóris.
"Ele é mais difícil porque essa região não tem tantas terminações
nervosas quanto o clitóris. A maioria dessas terminações está no
primeiro terço da vagina". O tão discutido ponto G estaria nessa região.
Seria uma saliência atrás do osso púbico. "Ele favoreceria o orgasmo
vaginal. Há estudiosos que defendem que ele seria a raiz do clitóris e
que algumas mulheres o teriam mais proeminente, o que daria mais prazer.
Mas essa ainda é uma questão muito controversa", afirma Ana Canosa.
Quer tentar?
Para as mulheres que queiram tentar o orgasmo vaginal talvez seja
interessante a "manobra da ponte", que consiste, basicamente, em
estimular o clitóris antes e durante o coito. “É melhor que a mulher
faça isso porque o homem acaba concentrado na penetração. Quando ela
perceber que está perto do orgasmo, tira a mão para perceber se consegue
que apenas a penetração dispare orgasmo", diz Ana.
Mas lembre-se: o orgasmo vaginal não é imprescindível para a satisfação
de nenhuma mulher. "Ele não torna nenhuma melhor que a outra. O que faz
uma mulher boa de cama é a capacidade de dar e receber prazer", afirma
Glene.