A revelação da traição é algo muito dolorido, já que desmorona toda a idealização do parceiro. "Aquela imagem de pessoa que construímos na nossa mente, perfeita, fiel, amorosa, agora precisa ser revista e modificada. É nesse momento que as pessoas têm a impressão de que se relacionavam com alguém que no fundo não conheciam", explica a psicóloga e sexóloga Maria Claudia Lordello. Ela diz que praticamente todo mundo que é traído vive essa fase. "O momento da descoberta é muito difícil, porque paralisa. A pessoa fica sem ação, e sofre demais por isso", afirma a psicóloga Liz Verônica Vercillo Luisi, supervisora do curso de especialização em terapia familiar e de casal da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Não é raro negar o fato da traição. Nessa etapa, muita gente se dispõe a “ver para crer” e começa a perseguir o parceiro a fim de comprovar a infidelidade ou, ao contrário, finge não notar os indícios (às vezes, claríssimos) da traição, agindo como se o problema não existisse. "Há pessoas que preferem não tomar conhecimento de detalhes. Dizem para si mesmas ‘isso não é verdade’ e tentam esquecer o problema", diz Maria Claudia Lordello, que acredita que a negação não é positiva se a pessoa se concentra apenas no fato consumado, em vez de buscar explicações para o que aconteceu. Nem todos passam por essa fase. Muitos, no momento da descoberta, vão direto à próxima etapa: a raiva.
RAIVA
A raiva é um mecanismo de autodefesa. "O indivíduo tende a se proteger da dor da traição odiando. É muito menos dolorido sentir raiva e jogar toda a culpa nos ombros alheios do que parar para refletir e tentar compreender se havia algo de errado na relação”, afirma a psicóloga Maria Claudia Lordello. Há, ainda, um desejo inconsciente de camuflar a própria culpa por ter “levado” o parceiro à traição. Os motivos? Vários: pouca atenção ao relacionamento, desleixo físico, comunicação truncada etc. Para Liz Verônica, a raiva é produtiva porque, ao contrário do choque, gera movimento, ação. “Ela impulsiona a discussão. Com isso, mesmo que com palavras duras, a verdade de uma relação vem à tona”, acredita.
Depois de um tempo, é comum que a raiva passe –ou, no mínimo, abrande. Sem esse sentimento no caminho, a pessoa traída consegue pensar também naquilo que perdeu de positivo. A relação passa a ser vista como um todo, com diversos bons momentos partilhados, e não somente como um episódio ruim. Por isso, dói, mas é uma fase importante de aprendizado. “Os prós e os contras são avaliados com maior critério”, diz a psicóloga Luiza Ricotta, autora de “Me Separei! E Agora?” (Ed. Ágora).
Com a dor, as reflexões começam a acontecer e já é possível parar e compreender a traição de uma forma diferente, entendendo suas razões e avaliando se tais motivos podem ou não continuar a interferindo na relação. Para a psicóloga Poema Ribeiro, especializada em casal e família, com exceção de situações escandalosas e/ou constrangedoras, a traição não é o fator determinante para a ausência de perdão, mas, sim, a própria escala de valores de cada pessoa. "As razões pelas quais as pessoas reatam ou perdoam nem sempre estão ligadas ao orgulho ou à opinião dos outros. Em geral, os motivos são muito mais profundos, ligados à confiança e lealdade", diz. É possível compreender a traição e as suas razões, se assim valer a pena para a relação. "Mas, se a escolha é perdoar, é preciso fazer isso de verdade, compreendendo e aceitando de fato as razões que a outra pessoa teve para trair", completa Poema. Não é tão simples perdoar totalmente, pois as pessoas apresentam uma grande dificuldade de se colocar no lugar do outro para tentar compreender suas atitudes.
Segundo a psicóloga Luiza Ricotta, a traição é ao vínculo, ao propósito que até então vinha se tendo na vida em comum. E é bastante triste quando se trata de pessoas com boas perspectivas com relação à união. “Porém, muitos casais que têm um bom relacionamento e convivência passam por situações de infidelidade e conseguem perdoar em razão da parte boa que os une”, diz a especialista. Para Liz Verônica, muita gente diz que perdoou, mas não supera o episódio. Ele se torna um fantasma na convivência a dois, dando as caras em conversas ferinas sempre que acontece alguma briga ou desavença. “Algumas pessoas não se separam nunca mais, mas isso não significa que vivam bem. É preciso virar a página de vez e não olhar para trás para dar continuidade ao relacionamento”, afirma.
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