segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Educação Bilíngue

Qual a melhor idade para o ensino de um segundo idioma às crianças? Este debate não é novo, porém, ainda suscita dúvidas sobre as quais se debruçaram muitos educadores do mundo todo

SHUTTERSTOCK
A questão do ensino de outro idioma na primeira infância gera uma discussão tão vasta quanto profunda e hoje tomou um destaque maior por conta das modificações que a globalização, a tecnologia, a internet e as facilidades de comunicação e transporte internacionais trouxeram nas últimas décadas. Nunca foi tão acessível falar com amigos de outros continentes nem tão necessário ter acesso às línguas mundialmente mais faladas, para acompanhar o desenrolar dos acontecimentos universais. Também nunca foi tão fácil mandar um filho estudar no exterior, e viajar para os quatro cantos da Terra tornou-se tão simples quanto viajar pelo próprio país.
Entretanto, a conveniência ou não de submeter propositalmente uma criança ao aprendizado de duas línguas deve passar por um crivo reflexivo e, como em tudo em matéria de educação, cada caso é um caso.
Em primeiro lugar, devemos recordar que grande número de famílias vive em países onde é frequente haver dialetos e até mesmo duas línguas oficiais, o que cria naturalmente o bilinguismo. Aqui mesmo no brasil temos como exemplo o caso dos povos indígenas, em que a manutenção da cultura exige das novas gerações o aprendizado da língua mãe de seu povo e da língua oficial da nossa nação. Outro exemplo muito perto de nós é o caso dos filhos e netos de imigrantes que aprenderam e aprendem desde o berço a falar em outra língua antes ou concomitantemente ao português. E assim mantêm simultaneamente a identidade e a ligação com a língua da família e com o idioma de sua pátria.
Como esses aprendizados se deram, na grande maioria das vezes, na primeira infância, dentro de um contexto informal, sempre se acolheu como sendo naturais, embora alguns mitos tenham sido criados em torno do fato. Um exemplo é o caso dos filhos de imigrantes pobres, sem estimulação e recursos para aprender o português corretamente, mas com domínio básico de duas línguas, que frequentemente passaram por longos períodos de dificuldades de adaptação social e especialmente acadêmica: daí surgiu a ideia errônea de que o bilinguismo é associado a defasagens no desenvolvimento cognitivo.
Hoje se comprova cientificamente que a aquisição de diferentes idiomas de modo concomitante, antes dos 7 ou 8 anos de idade, além de muito fácil, pode incrementar o amadurecimento linguístico, neurológico, psicológico, cognitivo e social infantil. Ao aprender com pessoas que falam perfeitamente um idioma, as crianças o dominam como se fossem nativas. Como esse aprendizado ocorre quer de modo informal, quer no contexto escolar, vemos atualmente um grande aumento na oferta de colégios e até mesmo de berçários bilíngues para filhos de famílias que não dominam outro idioma, ou que ao aprender mais tarde, durante sua escolarização, tiveram dificuldades das quais desejam poupar os filhos.

Os resultados de diferentes estudos, como o do professor doutor David W. Green (1998), do departamento de psicologia da University College London, entre crianças mono e bilíngues, sugerem que há uma diferença perceptível no desempenho da atenção focada, na rapidez diante da seleção de resposta a estímulos e no controle inibitório no segundo grupo: provavelmente porque o cérebro realiza com mais frequência essas funções quando há o uso de duas línguas concorrentes. Ele se torna mais apto a realizar essas tarefas. Outras pesquisas corroboram com esses achados: por meio de tomografia por emissão de pósitrons, se constatou que as línguas materna e estrangeira adquiridas durante os primeiros anos de vida ocupam uma área comum no córtex do lobo frontal do cérebro, responsável pelas funções executivas, da atenção, do controle inibitório, entre outras, diferentemente do que ocorre quando a língua estrangeira é adquirida na idade adulta.
Entretanto, é bom lembrar que até aqui falamos apenas do aprendizado da linguagem oral, e que boa parte dos especialistas concorda que a aprendizagem da leitura e da escrita deve ser realizada inicialmente na língua mãe. Uma das razões é que o ser humano já nasce com seu aparelho neurológico praticamente pronto para a aprendizagem da fala, mas isso não ocorre com o responsável pelo domínio da leitura e da escrita, que são convenções culturais cuja aquisição exige um esforço maior e condições maturacionais apropriadas e especiais do sistema nervoso.
Da mesma forma, no caso de crianças cujo aprendizado da fala ocorreu após os 18 meses de vida, ou se deu de forma empobrecida, inadequada, se sugerem aos pais muita cautela e a consulta a um profissional especializado, antes de submetê-las a programas informais ou formais, que objetivem levá-las ao domínio da estrutura de uma segunda língua, pois isso pode envolver o risco dessas crianças enfrentarem sérios problemas na ocasião de sua alfabetização.

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