Ela gostaria que as coisas fossem diferentes. "O sexo simplesmente não é
mais uma prioridade", diz B., de 45 anos, uma professora de Nova York
que concedeu entrevista sob a condição de apenas a sua última inicial
ser mencionada. "Ainda assim, seria bom não me sentir sexualmente
morta."
A situação da Sra. B. está longe de ser a única do tipo e o mercado
está começando a reagir. Na ausência de um equivalente feminino aprovado
pelo governo dos medicamentos contra a impotência masculina, como
Viagra, Cialis e Levitra, muitas mulheres estão recorrendo a produtos de
venda livre, incluindo lubrificantes, géis estimulantes, óleos de
massagem, suplementos nutricionais e fitoterápicos e vibradores. Nos
Estados Unidos, as redes de farmácias já estão vendendo esses produtos
ao lado de ataduras e compressas de aquecimento.
O KY Intense, um gel estimulante feminino que pretende aumentar a
sensibilidade do clitóris, é vendido na Walgreens, no Wal-Mart e na Rite
Aid. O ON, da Sensuva, um óleo estimulante, pode ser encontrado em 640
lojas da GNC em todo o país. A Intimina, da LELO, uma "linha de produtos
íntimos" que fabrica massageadores, vestuário e "cosméticos íntimos"
para uso pessoal, é vendido nas farmácias Pharmaca Integrative. E o óleo
essencial estimulante Zestra é vendido atualmente em 1.800 Wal-Marts.
Em 2010, era vendido em 880.
"A mulher média comprometida em um relacionamento tem relações sexuais
uma vez por semana", disse Rachel Braun Scherl, presidente do Semprae
Laboratories, fabricante do Zestra, que recentemente contratou Kris
Kardashian Jenner como porta-voz. "Nossa ideia não é fazer com que elas
tenham mais relações sexuais – mas de que caso elas estejam fazendo
sexo, que o apreciem."
Não está claro quão bem esses produtos funcionam. A indústria não é
regulamentada e ensaios clínicos quase não tem sido realizados. Um
estudo randomizado publicado em 2010 no "The Journal of Marital and
Family Therapy" relatou que as mulheres que usam o óleo Zestra contaram
sentir mais desejo, excitação e satisfação de um modo significativo do
que aquelas que receberam um placebo. O KY afirma que 70% das mulheres
que participaram de uma pesquisa sobre o produto concordaram que o gel
Intense aumentou a sua excitação, a intensidade do orgasmo, a satisfação
e o prazer, mas a pesquisa não foi publicada em um periódico médico.
Erin Drought, de 28 anos, uma consultora em tecnologia da informação de
Edmonton, Alberta, que diz que seu desejo sexual sumiu depois que ela
começou a tomar remédios para tratar o transtorno bipolar, tropeçou no
Zestra em um supermercado e resolveu experimentar tomá-lo. Ela não
contou ao marido porque "não queria dar esperanças a ele". Mas por
alguma razão, conta ela, o medicamento funcionou.
"Foi como ligar um interruptor de luz", diz ela. "Foi parecido com a
época em que comprei meus óculos novos e consegui finalmente ver as
coisas de longe. Foi tipo, 'Nossa, isso é o que sentimos quando
conseguimos ver'."
Muitos dos produtos estimulantes usam "óleo de hortelã ou alguma
variação; a ideia é fazer com que a mulher se sinta excitada", disse Bat
Sheva Marcus, diretora clínica do Centro Médico de Sexualidade Feminina
de Manhattan e Purchase, Nova York. "Algumas pessoas sentem que eles
dão uma sensação de queimação, algumas sentem que eles são bastante
estimulantes, outras não sentem nada."
Em primeiro lugar, a questão mais difícil é definir o "aumento do
desejo sexual". Para os homens, afinal, o problema tende a ser óbvio;
para as mulheres, as perguntas são mais complicadas.
"Elas não querem fazer sexo de jeito nenhum? Existe uma diminuição do
desejo sexual? Será que elas chegam ao orgasmo? É necessário separar
essas questões", disse Cheryl L. Perlis, ginecologista de Lake Bluff,
Illinois. "Algumas pessoas têm impedimentos físicos para chegar ao
orgasmo, independentemente da sua idade. Há uma série de definições
diferentes."
A disfunção sexual feminina continua a ser um tema controverso, ao
mesmo tempo em que se torna um diagnóstico oficial (a ser chamado de
distúrbio do interesse/excitação sexual feminino) no DSM-V, a nova
edição do manual de diagnóstico psiquiátrico cuja publicação está
prevista para 2013. Uma estatística citada frequentemente, proveniente
de um relatório publicado no "The Journal of the American Medical
Association" em 1999, indica que 43% das mulheres entre 18 e 59 anos
vivenciam alguma forma de disfunção sexual, incluindo falta de desejo e
excitação, dificuldade de chegar ao orgasmo ou mesmo dor durante a
relação sexual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário