'Anticoagulante lúpico' altera função dos vasos sanguíneos. Descoberta permite diagnosticar mulheres que precisam de tratamento
Pesquisadores do Hospital
for Special Surgery, nos Estados Unidos, descobriram que mulheres que
têm um tipo específico de anticorpo que interfere com a função dos vasos
sanguíneos estão em maior risco de problemas na gravidez.
A
pesquisa, descrita na revista Arthritis & Rheumatism, sugere ainda
que outros anticorpos da mesma família dos antifosfolípides (APLs) e que
haviam sido ligados a complicações durante a gestação não colocam a
maioria das mulheres em risco.
Os
pesquisadores afirmam que muitos médicos podem tratar
desnecessariamente de algumas mulheres grávidas com APLs com
anticoagulantes, como injeções de heparina, que podem causar sangramento
e perda óssea.
"Este
trabalho identifica as pessoas que estão em risco de perda do bebê e,
mais importante, aquelas que não estão em risco e que, portanto, não
precisam ser tratadas", afirma o autor da pesquisa Michael Lockshin.
Os
anticorpos antifosfolípides interferem com fosfolipídeos, um tipo de
gordura encontrado em todas as células vivas e membranas celulares,
incluindo células sanguíneas e do revestimento dos vasos sanguíneos.
Pacientes
com esses anticorpos estão em risco de coágulos sanguíneos, derrame e
complicações na gravidez, mas alguns pacientes com estes anticorpos
podem ser completamente saudáveis. "Fosfolipídios são altamente
presentes na placenta, e, como resultados, os anticorpos
antifosfolípides se concentram no mesmo local. Quando os anticorpos são
depositados nos tecidos de uma pessoa, inicia-se inflamação levando a
danos nos órgãos. E este é um caminho para complicações na gravidez",
explica a autora sênior Jane Salmon.
As
mulheres que têm perda de gravidez recorrente são comumente testadas
para a presença de APLs e até 15% são positivas. A maioria das pacientes
com teste positivo é tratada com anticoagulantes.
Para
o trabalho, os pesquisadores avaliaram 144 pacientes que tinham APLs,
das quais 28 tiveram resultados adversos da gravidez. Um grupo de
controle, 159 mulheres grávidas saudáveis, foi testado paralelamente ao
grupo com o anticorpo.
Eles
examinaram a associação entre complicações na gravidez e a presença de
três APLs diferentes: anticoagulante lúpico (LAC), anticorpo
anticardiolipina (aCL) e anticorpo para glicoproteína ß2 I.
Resultados
adversos na gravidez foram definidos como morte fetal inexplicável após
12 semanas, morte neonatal antes da alta ligada a complicações do
parto, parto prematuro antes de 34 semanas devido à hipertensão
gestacional, pré-eclâmpsia ou insuficiência placentária, recém-nascidos
pequenos para a idade gestacional.
Os
pesquisadores descobriram que a LAC foi o mais forte preditor de um
resultado adverso da gravidez, 39% dos pacientes com LAC teve
complicações em comparação com 3% que não tinham LAC. Apenas 8% das
mulheres com aCL, e sem LAC, sofreram resultado adverso. Outros APLs não
aumentaram o risco de complicações.
"O
anticoagulante lúpico é o mais importante preditor de risco e altos
níveis de anticorpos anticardiolipina por si só não fornecem risco
substancial. Antes deste estudo, muitos médicos consideravam aCL como um
potente preditor de risco", observa Salmon.
Segundo
os pesquisadores, a identificação de biomarcadores que identificam
pacientes de alto risco nos permitirá selecionar um subconjunto de
pacientes que precisam de tratamento.
Tratamentos
com anticoagulantes são usados atualmente para muitas mulheres com
aPLs, mas a identificação de quem deve ser tratado não é clara e este
tratamento é muitas vezes ineficaz. "Embora muitos pacientes com aPLs
sejam tratados com heparina, os resultados da gravidez ainda são
decepcionantes. Precisamos de melhores terapias. Este estudo vai nos
permitir identificar subgrupos de pacientes com maior risco", conclui
Salmon.
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