Descubra se é possível identificar um mentiroso

Reconhecer quando alguém está mentindo é uma tarefa difícil até mesmo para quem trabalha com o assunto. Diferente do que diz o senso-comum, mentirosos não se traem pelas expressões faciais ou linguagem corporal e muitos de nós já fomos enganados alguma (s) vez (es). Mas será que é possível melhorar a nossa capacidade de identificar mentiras? Segundo a revista NewScientist, a resposta é sim.

Uma pesquisa realizada em 2006 em 50 países indicou que as pessoas acreditam que mentirosos não conseguem olhar nos olhos quando estão agindo, o que é uma mentira, visto que os enganadores conseguem manter contato visual até mais do que as pessoas que estão contando a verdade. Outro estereótipo diz que mentirosos não são confiáveis. Na verdade eles não mentem o tempo todo. "As pessoas sempre acham que são péssimos mentirosos e ótimos em identificar a mentira e na verdade é justamente o contrário", disse o psicólogo Alder Vrij, da Universidade de Portsmouth (Inglaterra).Na maioria das vezes não notamos a mentira porque ela não importa, como alguém que esconde a idade ou o peso. Mas ela também pode trazer consequências sérias, como no caso do agente duplo da rede de terrorismo Al Qaida que se infiltrou no exército norte-americano no Afeganistão em 2009, enganando sete oficiais do serviço de inteligência. Para muitos seguranças, determinar uma mentira é questão de vida ou morte e o mais chocante é saber que eles não encontram mais facilidades do que nós nesta tarefa.

Entender o porquê de sermos tão vulneráveis perante a mentira já foi motivo de diversos estudos e agora Vrij se juntou aos psicólogos das universidades de Gotemburgo (Suécia) e British Columbia (Canadá) em um artigo publicado no periódico médico Psychological Science in the Public Interest no qual dizem que podemos melhorar nossa detecção de mentiras.

A primeira descoberta dos cientistas, que serve para o dia a dia, é que não há sinais comprovados que apareçam apenas quando alguém está mentindo ou dizendo a verdade. Além disso, tendemos a prestar mais atenção na linguagem não verbal e, quando há um conflito, ela se destaca aos nossos olhos. Balancear a análise das linguagens verbal e não verbal ajuda a identificar a mentira. Durante um interrogatório, por exemplo, não é incomum que mesmo quem esteja falando a verdade se sinta nervoso e ansioso, comprometendo o julgamento de quem interroga.

Determinar uma mentira também é um jogo de gato e rato, porque o mentiroso consegue ter um feedback de sua performance, melhorando-a constantemente. Mentir requer mais esforço cognitivo do que contar a verdade, assim é possível 'pegar' o mentiroso nos detalhes. Uma das formas é pedir para contar a história reversa ou pedir para desenhar a cena em questão. É difícil para o mentiroso porque ele não consegue visualizar as minúcias da cena inventada. Cronologias também pegam os enganadores facilmente.

Pedir para alguém opinar sobre um assunto, dando dois pontos de vista diferentes sobre ele também é uma forma de detectar a enganação, já que a tendência é defendermos com mais entusiasmo aquilo em que acreditamos de verdade. Pedir para o mentiroso manter contato visual durante o interrogatório ajuda também a identificar a inverdade, pois aumenta o vínculo cognitivo, evitando distrações por parte do interlocutor.

"O que faz alguém ser um bom detector de mentiras não é a habilidade para reconhecer a linguagem não verbal, mas a capacidade de fazer a pergunta certa", disse Tim Levine, psicólogo da Universidade do Estado do Michigan. Há estudos que sugerem que os mentirosos usam mais a palavra 'se' do que aqueles que falam a verdade, que usariam mais o termo 'quando'. Eles também apresentariam breves expressões de surpresa na parte superior do rosto.

Há psicólogos que não se convencem com o papel emocional da mentira, porque acreditam que não é possível representar a mesma tensão e ameaça emocional de um interrogatório em um voluntário.

O detector de mentiras
O detector de mentiras é um aparelho que foi criado no século passado para medir os indicadores fisiológicos que aparecem quando alguém está sendo interrogado, partindo da premissa que o mentiroso fica mais nervoso do que alguém que diz a verdade. Nos últimos anos, usando a mesma lógica, vídeos têm sido usados para medir a dilatação da pupila e os sinais de stress na voz.

Diversos acionistas dos direitos humanos têm reclamado do uso de máquinas para tentar detectar sinais de mentira que podem ser mal interpretados. Algumas empresas têm tentado criar mecanismos de escanear o cérebro, baseando-se nas evidências de que a área usada na mentira seria diferente da usada na verdade, mas similar à da decepção, o que leva muitos psicógolos ao ceticismo quanto à capacidade de instrumentos detectarem a mentira.