O estresse emocional provocado pelo terremoto seguido de tsunami do
ano passado no Japão fez encolher uma parte do cérebro dos
sobreviventes, revelaram cientistas japoneses que aproveitaram uma
oportunidade única de estudar os efeitos neurológicos do trauma.
Na
busca para compreender melhor os distúrbios de estresse pós-traumático
(PTSD), os cientistas compararam análises cerebrais feitas com escâneres
em 42 adolescentes saudáveis em outros estudos nos dois anos que
antecederam a onda assassina, com novas imagens capturadas de três a
quatro meses depois.
Entre aqueles com sintomas de PTSD, os
cientistas descobriram um encolhimento no córtex orbitofrontal, parte do
cérebro ativada no processo de tomada de decisões e na regulação das
emoções, destacou um estudo publicado esta terça-feira no periódico
Molecular Psychiatri, da revista científica Nature.
"Os volumes
alterados do córtex orbitofrontal estão correlacionados com a severidade
de sintomas de PTSD", explicou à AFP o autor do estudo, Atsushi
Sekiguchi.
Estudos anteriores já tinham sugerido que pacientes com
PTSD sofrem alterações no cérebro, mas este é o primeiro a apontar qual
parte do órgão é alterada pelo trauma.
As implicações completas
destas descobertas não estão claras até o momento, mas poderá haver um
benefício precoce para médicos e pacientes. Conhecer mudanças no volume
cerebral pode facilitar diagnósticos de PTSD e o tratamento adequado com
psicoterapia.
Os cientistas também descobriram que as pessoas que
tinham córtex cingulado anterior menor antes de um evento traumático
eram mais propensas a desenvolver PTSD posteriormente.
Acredita-se que esta parte do cérebro também esteja relacionada com as emoções e com o processo de tomada de decisões.
"Nós
acreditamos que estas mudanças não são permanentes porque muitos
estudos no passado demonstraram que mudanças cerebrais foram recuperadas
com alguns tratamentos ou intervenções", disse Sekiguchi.
"Para confirmar isso, já começamos a acompanhar os indivíduos", acrescentou.
Nenhum dos 42 foi diagnosticado com PTSD totalmente manifesta, mas apresentaram sintomas de vários graus de severidade.
Sintomas
de estresse pós-traumático, um tipo severo de depressão, incluem
flashbacks, torpor emocional, insônia e hipervigilância provocados pelos
horrores que uma pessoa experimentou.
Sekiguchi, do departamento
de geração de imagens funcionais do cérebro, da Universidade de Tokohu,
reconheceu que o tamanho da amostra foi pequeno, mas insistiu em que "há
alguma validade matemática para generalizar a uma população mais ampla a
partir dos nossos dados".
Os indivíduos viviam no interior da cidade de Sendai, duramente afetada pelo terremoto.
Dezenove
mil pessoas morreram quando o terremoto de magnitude 9 sacudiu a costa
nordeste do Japão em 11 de março de 2011, provocando uma tsunami, que se
seguiu à crise na usina nuclear de Fukushima.
"Este episódio
extremamente infeliz forneceu uma oportunidade rara para pesquisar as
mudanças estruturais do cérebro, associadas com um desastre destas
proporções", escreveram os autores.
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