Experimento com 82 voluntários no Reino Unido refuta ideia consagrada pela programação neurolinguística
Pesquisa com 82 voluntários conclui que o desvio do olhar não é um sinal estatisticamente confiável da mentira
Durante muito tempo, psicólogos acreditaram que desviar o olhar é sinal
de mentira. Essa ideia era (e ainda é) aplicada em diversas situações,
desde entrevistas de emprego até briga de casal. Mas após submeter 82
voluntários a experimentos, pesquisadores das universidades de
Hertfordshire e de Edimburgo, ambas no Reino Unido, e da Universidade da
Colúmbia Britânica, no Canadá, concluíram que não há evidências
concretas que possam comprovar estatisticamente que uma pessoa desvia o
olhar quando está mentindo. O estudo foi publicado na edição desta
semana no periódico científico Plos One.
A relação entre os movimentos oculares e o discurso foi difundida pela
programação neurolinguística (PNL), conjunto de técnicas psicológicas
criadas na década de 1970 com o objetivo de "entender melhor como o ser
humano, age, pensa e se comunica", segundo seus divulgadores. Para a
PNL, os movimentos oculares dizem o que a pessoa está pensando. Por
exemplo, se o desvio do olhar é para o canto superior direito, significa
a tentativa de visualizar algo imaginado. Se for para o canto superior
esquerdo, é a busca de uma memória, ou seja, uma experiência já vivida.
Segundo os pesquisadores, embora a PNL não considere os pensamentos
imaginados como sinônimos de mentira, essa ideia se generalizou e muitos
praticantes de PNL usam esse conceito para detectar mentiras.
Verdade ou mentira — Para testar essa ideia, os
pesquisadores realizaram três experimentos: analisaram a quantidade de
olhares desviados, os ângulos de desvio e a duração desse olhar oblíquo
(como a PNL não estipula o quanto dura um olhar mentiroso, eles
analisaram olhares longos e curtos). A ideia inicial era justamente
encontrar mentirosos olhando para os lados. Mas isso não aconteceu.
Os pesquisadores colocaram os voluntários em três situações diferentes
para detectar variações estatísticas na detecção da mentira. Primeiro,
selecionaram 32 pessoas e pediram para parte delas mentir em uma
situação específica. As respostas foram gravadas e analisadas.
Depois, com outro grupo de 50 voluntários, "treinaram" parte deles em
PNL, contando sobre os movimentos oculares e seus supostos significados.
Depois, mostraram os vídeos do primeiro grupo e pediram para que eles
apontassem quando um voluntário mentia ou não. O objetivo era saber se
quem aplica a PNL acerta quando o outro mente. O índice de acertos foi
irrisório.
Em um terceiro teste, os participantes de ambos os grupos assistiram a
vídeos em que familiares procuravam por parentes desaparecidos. Em
metade dos casos havia evidências de que a pessoa estava mentindo. O
objetivo era saber como a PNL seria aplicada e como a mentira seria
detectada. Novamente, o índice de acertos foi baixo.
Resultados — De acordo com os pesquisadores, esse é o
primeiro trabalho a testar experimentalmente os conceitos da PNL e os
três estudos não dão suporte à noção de padrões que relacionem o
movimento dos olhos e a mentira. Segundo eles, o resultado negativo está
de acordo com pesquisas anteriores que analisaram os movimentos faciais
(incluindo detecção de movimento ocular) e se mostraram ineficientes
pra detectar a mudança de comportamento.
O próximo passo, dizem os pesquisadores, será analisar por que esses conceitos – apesar de falhos – foram tão difundidos.
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