No Brasil, 76 milhões de homens e mulheres têm problemas para dormir.
Deles, 22,8 milhões são insones crônicos, quando a tortura de não pregar
os olhos (apesar do sono) se repete três vezes por semana, por, no
mínimo, três meses. Até recentemente a grande esperança da medicina
contra as noites em claro concentrava-se, sobretudo, nos remédios. O
tratamento com medicamentos tem eficiência comprovada e os inevitáveis
efeitos colaterais. Por essa razão, ganha espaço nos consultórios
médicos o uso da terapia cognitivo-comportamental (TCC) para o controle
da insônia. Boa parte das pessoas tem insônia não por ser vítima de
algum desequilíbrio químico no cérebro, mas simplesmente por estar
condicionada a dormir errado. O objetivo da TCC é, por meio de mudanças
de hábitos, reprogramar o cérebro para ensiná-lo a adormecer. "Os
estudos mais recentes mostram que, a longo prazo, a terapia muitas vezes
é mais eficaz do que os medicamentos", diz o neurologista Leonardo
Goulart, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Nos
Estados Unidos, desde 2005 a TCC passou a ser considerada também o
tratamento-padrão para a insônia.
Lições para voltar a dormir - “Costumava acordar mais
de duas vezes durante a noite e tinha dificuldade para voltar a dormir,
o que comprometia o dia seguinte. Por isso, recorri aos remédios. Não
acreditei que a TCC pudesse funcionar. Engolir um comprimido antes de me
deitar era bem mais simples do que mudar os hábitos, mas resolvi
experimentar e hoje durmo sem o remédio e, se acordo durante a noite,
aprendi a pegar no sono novamente.” Thelma Frazatto, 40 anos
Quando foi criada, nos anos 60, pelo psiquiatra americano Aaron Beck, a
TCC destinava-se ao tratamento de distúrbios psíquicos, em especial a
ansiedade e as fobias. Para seus criadores, tais afecções, em geral,
surgem da interpretação errônea do mundo concreto. Por meio de confronto
e resistência, o método visa a desligar os comandos cerebrais
associados aos pensamentos distorcidos. "Com a terapia, é possível
reduzir as doses de remédio para dormir ou até suspender seu uso", diz a
neurologista Andrea Bacelar, vice-presidente da Associação Brasileira
do Sono. É o caso da carioca Regina Zany e da paulista Thelma Frazatto,
cujos depoimentos estão nesta página. O tratamento dura, em média, dois
meses, com encontros semanais com o terapeuta. Além de aprender técnicas
de relaxamento e meditação, entre outras estratégias, o paciente é
incentivado a anotar a sua rotina de dormir e acordar e a registrar as
preocupações que costumam rondá-lo nas noites em claro — "aquelas coisas
transtornadas" do poema de Fernando Pessoa. Diz a psicóloga Karina
Haddad Mussa, do Instituto do Sono, da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp): "O objetivo é mostrar ao insone que ele é capaz de dormir.
Isso é importante, já que grande parte dos pacientes tem a impressão de
que não sabe mais o que é dormir".
Sono mais tranquilo - “É terrível ter sono e não
conseguir dormir. Rolava na cama por cinco horas até dar um cochilo. Um
cochilo apenas. Era uma tortura. A cabeça não parava. Problemas pequenos
ficavam enormes. Cheguei a tomar uma quantidade elevada de
benzodiazepínicos. A terapia me ensinou a controlar a ansiedade e hoje
só preciso de doses baixas de antidepressivo para pegar no sono.” Regina Zany, 47 anos
A eficácia da TCC anti-insônia não pressupõe o abandono dos
medicamentos. A terapia não é indicada, por exemplo, para quem não
consegue dormir em decorrência de um quadro de apneia. Outros pacientes,
por sua vez, não se adaptam ao novo método. Além disso, os remédios
continuam indicados para aqueles momentos mais turbulentos, como a morte
de um parente ou dificuldades financeiras, nos quais ficar sem dormir é
aceitável. Também nesse campo, a medicina tem boas-novas. Foi lançada
recentemente no Brasil a versão sublingual do zolpidem, um dos mais
seguros e eficazes indutores do sono. Fabricada pelo laboratório EMS e
vendida sob o nome comercial de Patz SL, a nova formulação permite que o
remédio induza o sono em apenas nove minutos — duas vezes mais depressa
que os comprimidos orais. Conclui a neurologista Dalva Poyares, da
Unifesp: "Medicamentos de ação mais rápida ajudam a diminuir a angústia
do paciente".
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