As estastísticas atuais trazem um dado paradoxal: por um lado,
o número de casamentos continua alto, mas o número de separações
não para de aumentar. Nos grandes centros urbanos, chega a 50%.
A cada dois casamentos, um termina em divórcio.
Realmente, nenhuma instituição parece
refletir melhor as transformações da intimidade do que
o casamento. Outro dia, ouvi de uma aluna a seguinte frase: "Gostaria
de passar um tempo de minha vida casada". Esta frase parece encerrar
e resumir as perspectivas das jovens de hoje. Não se acredita
mais que o casamento possa ser um estado definitivo.
Essa mudança em relação à ideia de casamento
aconteceu de maneira bastante rápida. Em apenas uma geração.
Essas jovens, fazendo um paralelo com suas mães, veem-se bem distantes
do ideal de comportamento feminino que norteou as escolhas de seus pais.
Consideram o horizonte de suas mães muito limitado, restrito ao
casamento e à maternidade. Afirmam que essa não era sequer
um escolha, pois não havia outra. Em algumas famílias, a
mãe já começava a preparar o enxoval assim que a
filha nascia. A escolaridade das mulheres que tinham acesso ao estudo
não ia além do curso Normal, aliás chamado de "espera-marido".
Mesmo que esses casamentos fossem baseados num ideal romântico,
o que contava na escolha do parceiro não era tanto a paixão,
mas o fato de ele ser um bom partido, aquele que mostrasse promissoras
chances de ascender materialmente e assegurar o futuro da esposa e dos
filhos.
Havia ainda, a fantasia de que o marido seria uma espécie de salvador,
que traria a segurança afetiva e financeira.
Nas pesquisas que fiz com mulheres jovens, constatei em seus depoimentos,
que elas não acreditam mais nessa promessa e estão priorizando
a formação profissional. Uma funcionária de uma grande
empresa, com boas chances de sucesso abriu mão de um namorado bonito,
inteligente, bem-sucedido e enamorado, quando ele foi trabalhar em outro
pais e convidou-a para ir com ele. Ela optou pela carreira. Isso seria
impensável para uma mulher há pouco tempo atrás.
Outra grande mudança foi em relação à sexualidade
feminina. Sem o tabu da virgindade, a mulher passou a ter parceiros sexuais
fora do casamento sem ser apontada como "galinha".
Teria sobrado algum motivo para as mulheres ainda desejarem se casar?
Sabemos que a vida conjugal exige, ainda nos dias atuais, um grau maior
de responsabilidades para a mulher. A divisão financeira foi assimilada,
mas a dos afazeres domésticos não.
Creio que esses dados que obtive podem ser úteis para uma reflexão
sobre a escolha de se casar ou não. Em nome do quê seria
o casamento uma boa opção?
Casar implica em boa dose de renúncias, numa alta capacidade de
tolerância, em negociações constantes. Saber quando
abrir mão, e quando insistir. Enfim, as pessoas ao escolherem o
casamento deveriam fazê-lo, se realmente sentissem vocação.
O alto número de divórcios parece revelar que essa decisão
não é tomada com seriedade.
A grande vantagem de se viver nos dias de hoje é justamente poder
traçar seu projeto amoroso de maneira mais pessoal, respeitando
suas características, seus desejos e seus limites. Nem todo mundo
nasceu para viver casado, outras formas de relacionamento amoroso podem
ser experimentadas.
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