segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Veneno de cobra age contra câncer de pele, aponta estudo do Butantan
Uma toxina encontrada no veneno da cobra cascavel poderia aumentar a
sobrevida de casos de câncer de pele em até 70%, segundo um estudo feito
com camundongos pelo Instituto Butantan, em São Paulo.
Segundo a geneticista Irina Kerkis, que coordenou a pesquisa, a grande
vantagem da proteína crotamina é que, na dose certa, ela distingue
células normais das cancerosas e consegue entrar dentro destas, com um
efeito que dura até 24 horas. Isso permitiria que a substância fosse
administrada apenas uma vez por dia, reduzindo os efeitos colaterais da
quimioterapia.
"A crotamina inibe o crescimento das células alteradas e as mata. Em
alguns casos, o câncer praticamente desapareceu", conta a geneticista,
que orientou o trabalho do doutorando da Universidade de São Paulo (USP)
Alexandre Pereira, na área de biotecnologia.
A toxina retirada dessa espécie de cobra peçonhenta (Crotalus durissus),
que tem um chocalho na cauda e é natural do continente americano, vem
sendo estudada desde 2004, mas para outras aplicações. Desde 2009, por
meio desse estudo, é que os cientistas analisaram seus efeitos contra o
câncer.
Primeiro, foram observadas células humanas e animais isoladas, com ação
em tumores de mama e pulmão, por exemplo. Na fase seguinte, com 70
camundongos, os autores - que publicaram o estudo no ano passado na
revista britânica "Expert Opinion on Investigational Drugs" - viram que a
crotamina foi eficiente na contenção de melanoma, um tipo menos comum
de câncer de pele, mas extremamente agressivo, pois se espalha
rapidamente para outros órgãos.
Segundo Irina, os testes clínicos com seres humanos devem começar em
cerca de dois anos, e dentro de cinco é possível ter um novo medicamento
contra o melanoma.
"Os fármacos tradicionais usados na quimioterapia têm grande impacto nas
células saudáveis, com muitos efeitos colaterais. Já a crotamina é
inofensiva para elas. Além disso, é mais facilmente diluída em água, o
que facilita a administração injetável", explica.
O estudo deve continuar agora a pesquisar outras formas de aplicação
dessa toxina, por meio de uma "bomba" embaixo da pele que solta a
substância em pequenas quantidades durante algumas semanas. Assim, o
composto não entra na corrente sanguínea, o que minimiza seu impacto no
organismo.
Outro benefício, de acordo com Irina, é que a crotamina das cascavéis
não tem o efeito emagrecedor visto nos quimioterápicos normais. Nos
testes com cobaias, a proteína mostrou que consegue fazer o indivíduo
manter o peso.
A geneticista destaca, ainda, que a substância é uma ferramenta
biotecnológica poderosa, que pode ajudar também no diagnóstico do
câncer. Isso porque, quando entra nas células cancerosas, a crotamina
vira um marcador que detecta o crescimento do tumor e casos de
metástase.
"Estamos otimistas, mas ainda é uma pesquisa", ressalta a
geneticista.
Segundo ela, uma espécie de escorpião também tem veneno com propriedades
parecidas às da crotamina, mas ainda não há pesquisas relacionando o
composto com tratamento de câncer.
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