segunda-feira, 25 de julho de 2011

A mulher é o novo homem?

O mundo está mais feminino ou é a mulher que está mais masculina?

No Brasil, as mulheres representam 60% dos estudantes universitários. Ao mesmo tempo, ocupam mais postos de chefia do que nunca. Nos Estados Unidos, a maioria dos cargos de gerência já pertence à mulherada – que, por outro lado, anda com altos índices de doenças tipicamente masculinas, como hipertensão. Por tudo isso, é o caso de perguntar: A mulher é o novo homem? A repórter especial Nina Lemos, a escritora Marta Góes, a pesquisadora Denise Gallo e o psicanalista Oscar Cesarotto discutem. Se isso de fato for verdade, onde foi que erramos?


Denise Gallo

A mulher é o novo homem? Depois da Mulher Alfa, da Nova Mulher, da Mulher X, da Mulher Y, da Mulher 2.0, da Terceira Mulher, da Millenium Woman, da Mulher Polvo, olha só onde fomos parar: somos agora o novo homem. Tudo bem que os gêneros são mesmo frutos de práticas discursivas que mudam ao longo do tempo, mas as construções do gênero feminino na cultura contemporânea parecem mais sintonizadas com a lógica da moda – “o off-white é o novo preto” – do que com os reais e complexos desafios que afligem mulheres e homens do lado de cá das páginas das revistas.

Nas voláteis redes dessas significações, a pergunta feita por Freud no início do século passado – o que quer a mulher? – não só segue sem resposta, como agora vale também para os homens: o que quer o homem? Aliás, se pensarmos que masculinidade e feminilidade andam com contornos um tanto borrados, a própria afirmação “a mulher é o novo homem” não elucidaria muita coisa, já que ninguém mais sabe ao certo o que é ser homem também. Essas indefinições seriam muito positivas, caso servissem para impulsionar reflexões corajosas, para formular novas indagações e dar voz a outras respostas. A questão é que o (não) debate que se instaura na mídia é cheio de armadilhas perigosas que, no fim das contas, ora propõem uma mera inversão simétrica – homens-frágeis, mulheres-poderosas –, ora perpetuam os mesmos velhos clichês, como aquele que afirma que a nova economia é mais afeita ao talento feminino porque as mulheres são intuitivas e flexíveis, enquanto os homens são agressivos e competitivos e, por isso, não servem mais.

Quem mandou fazer sucesso?
Outra constatação “mil e uma utilidades”, repetida em praticamente todas as reportagens sobre o tema e que merece um olhar crítico, é que a emancipação da mulher é a grande responsável por suas mazelas. A mulher se igualou ao homem e, agora, está doente, está sozinha, está ferrada, coitada. Antes de mais nada, é preciso lembrar que não estamos na Suécia e que é bastante questionável falar em igualdade em um país onde uma mulher é agredida a cada 15 segundos, onde o debate sobre a legalização do aborto está no pé em que está, onde as capas das maiores revistas femininas ainda colocam no corpo belo o principal patrimônio feminino. Dessa forma, por aqui, ainda há bastante o que fazer antes de cantar a vitória da igualdade.

Mas, mesmo olhando com otimismo para os avanços, é curioso notar como a mídia gosta de falar do preço que as mulheres pagam por suas conquistas: “Conquistaram o mercado de trabalho e pagam o preço de continuarem solteiras”, “priorizaram a carreira e pagam o preço de não terem se tornado mães”. Pagar o preço, nessa fala, pressupõe que exista um desejo único que une todas as mulheres, uma “natureza feminina” que berra, inconformada, com o corpo que não obedece aos seus verdadeiros instintos: casar, acasalar com amor e ter filhos. Absorvemos essas verdades sem perceber que há nelas um determinismo do qual precisamos nos libertar, mesmo que seja para escolher ter a mesma vida que nossas bisavós. A mulher é o novo homem, o homem é a nova mulher, o que é ser homem, o que é ser mulher? Se está tudo em aberto, por que não experimentar novas configurações, sem a urgência mercadológica de dar contornos ao “target”? Feminino e masculino continuarão a ser aprendidos mas, quem sabe, com novas e mais surpreendentes lições.

Mulher: o futuro do homem

Oscar Cesarotto

Anos há, um poeta disse que a mulher era o futuro do homem. Demorou. O futuro já chegou, com os homens sendo agora o passado das mulheres. Tudo o que eles faziam, elas também são capazes, igual ou até melhor. O parque humano, composto de dois grandes grupos, sempre dividiu os afazeres da vida cotidiana. Uns labutavam, outras pariam; dominava-se o mundo com o suor da testa, enquanto a dor alumbrava a existência, dentro de casa.

Num novo milênio, as conquistas femininas extrapolam o âmbito doméstico, abrangendo o planeta; ao mesmo tempo, o corpo de cada uma é reconquistado em causa própria. A medicina muito tem contribuído para harmonizar períodos & vontades, possibilitando ou impedindo a perpetuação da espécie, liberando das regras & suas exceções. A histeria (do grego hysteros, útero), como Freud demonstrara, é uma estrutura psíquica, para além do órgão, tanto que existe em versão masculina. Historicamente, porém, no comunismo soviético, quando todos desempenhavam as mesmas tarefas produtivas, as camaradas foram dispensadas de dirigir tratores, para que a vibração não afetasse as funções reprodutivas. Respeito à diferença, não discriminação.

Hay que enternecer
Hoje, nos Estados Unidos, são mais as trabalhadoras do que os operários. Não que eles sejam zangões, é que perderam o que elas ganharam. O desemprego joga os homens na rua, ou para dentro de casa, para serem os reis derrocados do lar. Na crise atual do capitalismo apátrida, consolida-se o matriarcado perante o declínio da figura do pai, humilhado pela inadimplência. Casamentos acabam quando a carteira assinada vale mais que o papel passado. As novas configurações familiares dependem de quem traz o leitinho para as crianças.

Em outras terras, a paternidade é reconhecida pelo Estado com meses de licença-prêmio para crescer junto com o recém-nascido. Assim caminha a humanidade. A oportunidade de ficar no ninho propicia que o macho vire coruja, para felicidade geral da prole & noites de choro mais bem distribuídas. Com essa previdência social, todos se beneficiam, podendo enternecer, mas sem perder a virilidade. As próximas gerações agradecem.

A grande questão, entretanto, é quem veste as calças; antes, o que tem por baixo. Para a fecundação, a tecnologia dispensa a penetração, outrora patrimônio & orgulho dos que não apenas produzem a semente, como também realizavam o delivery in loco. Tomara que não se percam certos costumes ancestrais, como fazer neném à moda antiga, ou brincar de kama sutra, ou pecar sem conceber, o céu não tem limite. O risco, mais do que a mulher ser o novo homem, é que o novo homem, o proletariado do consumo, não possa dar conta do recado sem Viagra ou cartão de crédito.

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