Para ter mais intimidade com a vagina, ginecologistas recomendam observá-la com a ajuda de um espelho
Por mais estranho que possa parecer, ainda há muitas mulheres que
desconhecem a própria região genital. Com isso, elas abrem mão de
explorar o potencial de prazer de seus corpos e perdem o poder de
negociar seus desejos com os parceiros, acabando numa situação de
submissão a o que o outro quer, sem igualdade de poder com o homem na
cama.
De acordo com profissionais que lidam com a intimidade das mulheres,
são muitas as que ainda têm problemas para apenas olhar a própria vulva.
Com 35 anos de profissão, o ginecologista e sexólogo Eliezer Berenstein
afirma que é comum que as pacientes não encaram bem o exame de
vulvoscopia. “A câmera do equipamento permite que elas vejam a vulva e o
canal vaginal, mas normalmente elas não querem olhar. Elas têm certa
repulsa”.
O ginecologista Eliano Pellini, chefe do setor de Saúde e Medicina
Sexual da Faculdade de Medicina do ABC, acredita que a maioria das
mulheres valoriza menos essa área do corpo do que as demais. “Elas
precisam fazer as unhas e cabelos toda semana. Mas ir ao ginecologista é
uma vez por ano para fazer o exame de papanicolau e olhe lá", diz
Pellini. “Durante o exame, elas dizem ‘nossa, como a vagina é feia! Por
que será que os homens gostam disso?’".
A experiência de 20 anos no consultório mostra para a ginecologista e
sexóloga Glene Rodrigues que cerca de 30% das mulheres não têm muita
intimidade com sua área genital. “Elas agem como se essa parte do corpo
não fosse delas. Não encostam a mão, não querem olhar, sentem vergonha. E
desse porcentual, uns 10% delas lidam de forma traumática, como se ter a
vagina fosse pecado, algo sujo”, diz Glene.
A má educação
Há muitos motivos que explicam esses sentimentos e reações negativas das mulheres com relação à vagina. A começar pela cultura na qual o pênis é idolatrado. “Quando um menino nasce, os pais dizem orgulhosos ‘olha o tamanho do pênis do meu filho’. Mas você já ouviu alguém falar ‘nossa, mas minha filha tem um clitóris lindo?’”, diz Eliezer Berenstein. Para ele, os meninos têm também a vantagem anatômica de poder ver seu órgão. Mais que isso: eles têm autorização para se tocar desde a infância. "O menino brinca com o pênis e os pais, geralmente, não se importam. Acham até uma graça. Mas se a menina faz o mesmo, logo é repreendida. Desde cedo elas entendem que é um lugar proibido”, diz Sandra Vasques.
Há muitos motivos que explicam esses sentimentos e reações negativas das mulheres com relação à vagina. A começar pela cultura na qual o pênis é idolatrado. “Quando um menino nasce, os pais dizem orgulhosos ‘olha o tamanho do pênis do meu filho’. Mas você já ouviu alguém falar ‘nossa, mas minha filha tem um clitóris lindo?’”, diz Eliezer Berenstein. Para ele, os meninos têm também a vantagem anatômica de poder ver seu órgão. Mais que isso: eles têm autorização para se tocar desde a infância. "O menino brinca com o pênis e os pais, geralmente, não se importam. Acham até uma graça. Mas se a menina faz o mesmo, logo é repreendida. Desde cedo elas entendem que é um lugar proibido”, diz Sandra Vasques.
A relação do homem com o pênis é muito mais positiva, segundo a
psicóloga, educadora e terapeuta sexual Ana Canosa. “O pênis é objeto de
admiração e de exposição por parte dos homens. Eles gostam de verdade
de seu órgão sexual e querem que a parceira o admire também”, afirma.
Outra questão importante é a ideia de submissão da mulher. “Elas eram
condenadas a servir o homem, casar virgem, não podiam ter prazer nem
mostrar o corpo. Tudo isso acabou se refletindo no modo como tratamos a
vagina”, diz Ana Canosa. Para ela, é preciso também observar diferenças
entre os apelidos dados ao órgão genital masculino e feminino. “No caso
do pênis, são usados nomes que têm a ver com poder e força. No caso da
vagina, ela ganha nomes de animais peçonhentos ou é chamada no
diminutivo com nomes como florzinha, borboletinha”, diz.
A questão religiosa também tem peso, segundo a ginecologista e sexóloga Glene Rodrigues. “A ideia de não poder se masturbar porque
é pecado acaba transformando essa parte do corpo em geradora de culpa.
Isso pode desenvolver o sentimento de nojo na mulher, que não vai deixar
o parceiro fazer sexo oral nem tocá-la com a mão. Ela não vai se
permitir ter prazer”.
Vida sexual afetada
Não ter intimidade ou sentir algum tipo de repulsa pela região genital afeta a vida sexual da mulher e, consequentemente, do casal. Assim, os jogos sexuais que têm a ver com intimidade e exploração do corpo serão evitados para não expor a região íntima. Para Ana Canosa, esse tipo de mulher não costuma ter autonomia sexual por não reconhecer o próprio desejo. "Ela fica em segundo plano, se submete ao que o outro quer. Quem vai imprimir o ritmo à relação é o homem. Ela não terá poder de negociar o próprio prazer na relação sexual”, diz.
Não ter intimidade ou sentir algum tipo de repulsa pela região genital afeta a vida sexual da mulher e, consequentemente, do casal. Assim, os jogos sexuais que têm a ver com intimidade e exploração do corpo serão evitados para não expor a região íntima. Para Ana Canosa, esse tipo de mulher não costuma ter autonomia sexual por não reconhecer o próprio desejo. "Ela fica em segundo plano, se submete ao que o outro quer. Quem vai imprimir o ritmo à relação é o homem. Ela não terá poder de negociar o próprio prazer na relação sexual”, diz.
Outro problema é a anorgasmia, a falta de orgasmo. “A mulher que não
gosta do genital vai escondê-lo. Não vai explorá-lo ou não vai curtir
sexo oral. Que orgasmo ela vai ter? A relação fica sem graça e ela
começa a não querer transar mais, o que resulta em falta de desejo
sexual”, diz Ana.
Como reverter esse quadro
O ginecologista Eliezer Berenstein costuma dar uma lição de casa para pacientes sem intimidade com suas vaginas: que elas comecem a olhar seus genitais com a ajuda de um espelho. “É uma forma de desmistificar a região e de integrar essas mulheres à sua genitália. Isso ajuda a mudar o que pensam sobre essa parte do corpo”, diz.
Em outra fase, a exploração física conta com a ajuda do parceiro. “A
ideia é que a mulher se exponha para ele, divida essa a imagem num
ritual de contemplação, porque muitos homens também desconhecem o órgão
sexual feminino”, diz Berenstein. Depois disso, a visão da mulher sobre a
área costuma mudar. “Cerca de 70% começa a achá-la bonita”, diz o
médico.
O ginecologista Eliezer Berenstein costuma dar uma lição de casa para pacientes sem intimidade com suas vaginas: que elas comecem a olhar seus genitais com a ajuda de um espelho. “É uma forma de desmistificar a região e de integrar essas mulheres à sua genitália. Isso ajuda a mudar o que pensam sobre essa parte do corpo”, diz.
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