Há uma explicação para tamanha transformação: a atração inicial acontece, principalmente, inconscientemente. "Durante o namoro, em especial em seu início, existe a tendência em mostrarmos o que temos de melhor. Ou seja, agimos de maneira que, no nosso entendimento, o outro gostaria que agíssemos", explica a psicóloga Juliana Morillo, especialista em terapia familiar e de casal pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).
Para a psicóloga Marcella Almeida, da Clínica de Especialidades
Integrada, muitas razões podem nos impedir de notar as verdadeiras
características de um parceiro. "A mais comum é a necessidade de,
durante o relacionamento, só enxergarmos aquilo que se deseja e criar
uma fantasia ideal do ser amado, baseado no amor romântico", diz. Por
isso, ela afirma que a fase do namoro é fundamental para que um conheça
bem o outro, as família e suas histórias. “Quando você percebe na pessoa
amada algo divino, mesmo que os amigos e os parentes não vejam o mesmo,
é uma boa dica para avaliar se estamos ou não fantasiando”, diz.
Além disso, ao iniciar um romance, buscamos características no outro
que, por razões pessoais, são desejáveis e importantes existir. “É
natural começar uma relação com a visão ofuscada pela empolgação de
estar com alguém que nos atrai”, diz Juliana. Portanto, não se pode
afirmar que uma pessoa omite más qualidades, afinal, o outro também não
as quer enxergar. “Os defeitos e as virtudes já estavam ali, só não
foram avaliados por quem idealizou algo diferente ou alimentou a crença
de que alguma característica poderia ser mudada”, afirma a psicóloga
Triana Portal.
O perfil real de uma pessoa só é realmente descoberto quando o casal
passa por uma situação de estresse, segundo o psicólogo Maurício Pinto.
“Com o tempo e de acordo com as circunstâncias, as pessoas podem mudar
para melhor ou para pior, e é fundamental estar preparado para isso”,
diz. Convivência significa intimidade, o que faz com que você mostre
quem realmente é. Com qualidades, aquelas que fizeram o outro se
apaixonar, mas com defeitos também, não tão apaixonantes assim.
A rotina ajuda a enxergar o outro com uma visão menos embaçada. Com o
passar do tempo, não dá para sustentar papéis (lembrando que,
normalmente, eles são interpretados inconscientemente) que não fazem
parte de um comportamento natural. “Se passamos a agir de forma
diferente, o outro também passa a reagir de outra maneira, e
vice-versa”, explica Juliana.
Tais conflitos precisam ser conversados, negociados e solucionados para
que o casamento se mantenha saudável. Juliana diz que, dependendo de
como foi o namoro, a negociação pode não ter sido necessária e os
parceiros não aprenderam a solucionar diferenças. Com isso, as emoções
geradas pelo conflito facilitam reações mais impulsivas, provocando o
"efeito surpresa" --quando alguém revela ou percebe uma faceta até então
oculta.
Mas ao descobrir os defeitos que não conhecíamos até o casamento, como
agir? “É fundamental colocar na balança não apenas as coisas ruins, mas
as virtudes. O casamento pode ter salvação por meio de mobilização mútua
em um objetivo comum”, explica Triana.
Para Maurício Pinto, algumas perguntas básicas devem ser feitas, como:
ainda gosto dessa pessoa? Tenho admiração? Vale a pena? “Uma terapia de
casais pode ajudar neste processo, onde os pontos negativos podem ser
abordados de forma protegida e segura na busca de um relacionamento
saudável”, afirma.
Mas não adianta apenas um estar disposto, ambos devem estar em
sintonia. “Todos são passíveis de mudanças, mas é preciso
disponibilidade para isso, querer fazer dar certo. Se esta vontade
existir, um grande caminho foi percorrido e a chance da mudança real
acontecer é grande”, diz Marcella. Porém, se o relacionamento estiver
comprometido e o parceiro não transmitir mais confiança, a separação é o
melhor caminho. “Se não há mais sintonia e a relação tira mais do que
acrescenta, não vale insistir”, afirma Maurício.
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