Solteiros nem sempre estão em busca de alguém. Ao contrário: podem estar felizes com sua condição
Solteiros sofrem. Não de solidão, mas com o preconceito. É o
"solteirismo", no termo cunhado por Bella DePaulo, psicóloga social da
Universidade da Califórnia com quase seis décadas de solteirice invicta.
"Basta dizer que você é solteiro a alguém que acabou de conhecer que,
em geral, a pessoa pensa que sabe muito sobre você. Que entendem suas
emoções", escreve DePaulo no livro "Singled Out" (sem versão em
português).
Na imaginação de quem não compreende o solteiro, poucas presunções são lisonjeadoras: "Quem não se casa só pode ser um solitário soturno" ou "No fundo, só quer encontrar alguém". Mais: o solteiro é egoísta, imaturo, incapaz de assumir compromissos e só pensa em diversão. Ou é seletivo demais, intolerante, promíscuo, frívolo, suspeito ou encalhado. Nada poderia estar mais distante da realidade. Ser solteiro não é necessariamente falta de opção. Nem é sinônimo de solidão. Pode significar mais contato com pais e amigos, mais dedicação ao trabalho, mais realizações pessoais.
Na imaginação de quem não compreende o solteiro, poucas presunções são lisonjeadoras: "Quem não se casa só pode ser um solitário soturno" ou "No fundo, só quer encontrar alguém". Mais: o solteiro é egoísta, imaturo, incapaz de assumir compromissos e só pensa em diversão. Ou é seletivo demais, intolerante, promíscuo, frívolo, suspeito ou encalhado. Nada poderia estar mais distante da realidade. Ser solteiro não é necessariamente falta de opção. Nem é sinônimo de solidão. Pode significar mais contato com pais e amigos, mais dedicação ao trabalho, mais realizações pessoais.
Nem solteirão, nem casado
Esqueça as palavras solteiro e casado. "Elas estão se tornando muito limitadas para descrever a gama de opções e comportamentos possíveis para estar ou não com alguém", diz Sergio Savian, terapeuta e escritor especializado em relacionamentos. De que forma classificar como casadas ou solteiras, por exemplo, pessoas com um envolvimento sério, mas que não moram na mesma casa nem tenham assinado papéis? Esse é o caso da gestora de mídias sociais Maria Eugênia Mourão. Aos 43 anos, ela já se casou formalmente com três homens. Informalmente, com outros dois. "As pessoas têm muito medo de abrir mão do que elas têm e acabarem sozinhas. Mas eu, não. Não consigo continuar um casamento se amar outro", diz.
Esqueça as palavras solteiro e casado. "Elas estão se tornando muito limitadas para descrever a gama de opções e comportamentos possíveis para estar ou não com alguém", diz Sergio Savian, terapeuta e escritor especializado em relacionamentos. De que forma classificar como casadas ou solteiras, por exemplo, pessoas com um envolvimento sério, mas que não moram na mesma casa nem tenham assinado papéis? Esse é o caso da gestora de mídias sociais Maria Eugênia Mourão. Aos 43 anos, ela já se casou formalmente com três homens. Informalmente, com outros dois. "As pessoas têm muito medo de abrir mão do que elas têm e acabarem sozinhas. Mas eu, não. Não consigo continuar um casamento se amar outro", diz.
Hoje, Eugênia está feliz em um relacionamento estável --ele na casa
dele, ela na casa dela. "O que acho mais divertido é que muita gente
acaba achando que nós somos gays. Procuram um padrão --e, para quem não
está casado, outro padrão é ser homossexual", diz Eugênia. "Acontece
que, para mim, não há uma regra fixa. É circunstancial. O que tenho que
procurar é o meu bem-estar e o do outro. No momento, a gente está
superbem. Se nos casarmos, não vai ser para calar a boca dos outros. Vai
ser uma decisão autônoma."
Para a psicóloga Marcella Almeida, assim deve ser um relacionamento:
negociado pelas duas partes. "Eu tenho filhos. Mas acho encantador
quando um casal escolhe não morar junto ou ter filhos, pois demonstra um
respeito mútuo muito grande. Não coloca no outro a responsabilidade
pela sua felicidade", diz Almeida.
Família, família
A engenheira paulistana Ana (que preferiu não publicar seu nome real) é solteira --e não por opção. "Só não achei o cara certo. No máximo tive um rolinho de seis meses. Aos 32 anos, a gente vai se decepcionado, endurecendo com as experiências anteriores", diz. Mas ela não é uma pessoa solitária. Sempre está acompanhada de amigos. Só tem um problema: a família.
A engenheira paulistana Ana (que preferiu não publicar seu nome real) é solteira --e não por opção. "Só não achei o cara certo. No máximo tive um rolinho de seis meses. Aos 32 anos, a gente vai se decepcionado, endurecendo com as experiências anteriores", diz. Mas ela não é uma pessoa solitária. Sempre está acompanhada de amigos. Só tem um problema: a família.
"É um inferno. Minha mãe fica me apresentado para o farmacêutico, para o
padeiro, para o filho do médico. E isso piorou agora que conheci uns
caras de um site de relacionamentos", conta Ana. Um só queria transar.
Com outro não rolou química. O terceiro virou amigo. “E minha mãe fica
falando para eu voltar a buscar alguém da internet."
O pai de Ana não fala sobre o assunto. A irmã cobra que ela tenha filhos. "Ela é mais nova, mas é casada e está grávida. Diz que não preciso de convenções, que tenho de adotar, que tenho de fazer uma produção independente. Não quero um filho, quero um cara bacana. Só não encontrei um, ainda."
O pai de Ana não fala sobre o assunto. A irmã cobra que ela tenha filhos. "Ela é mais nova, mas é casada e está grávida. Diz que não preciso de convenções, que tenho de adotar, que tenho de fazer uma produção independente. Não quero um filho, quero um cara bacana. Só não encontrei um, ainda."
Para Antonio Carlos Amador Pereira, professor de psicologia da PUC-SP,
solteiros precisam lidar com o choque de gerações. Pense em reuniões da
família estendida. Dia dos pais. Dia das Mães. Natal. Casamentos. Lá
estarão tios e avós ávidos para saber quando você se casará --ou ao
menos apresentará alguém à família. "Até certa época, uma mulher com 22
anos já era considerada encalhada. E o homem só era solteiro se quisesse
ser padre, afinal, casar e ter filhos era prova de masculinidade, posta
em dúvida caso fosse solteiro", diz.
Isso mudou. Apenas 45,8% dos brasileiros com mais de 15 anos são
casados, segundo o IBGE, com dados de 2010. Somente depois dos 29 anos
que o número de casados ultrapassa o de solteiros. Mas as gerações
passadas mantêm as expectativas de quando eram jovens.
Então, como reagir diante da pressão familiar? Primeiro, relaxe. Se
você reagir a toda cobrança, não ficará numa boa situação. Quanto menos
você mostrar incômodo, menor será a cobrança. Agora, entenda o lado do
outro. Pessoas têm incertezas e buscam respostas para elas. Se
perguntarem, basta dar uma resposta. Não precisa mentir, mas tampouco
precisa falar a verdade detalhada. Em geral, o curioso se satisfaz com
respostas como "ainda não encontrei a pessoa", "não é o momento" ou
"preciso me dedicar primeiro à carreira".
Isso não quer dizer que você deva satisfações sobre sua vida. "O
crescimento pessoal é proporcional ao fortalecimento de sua
autorreferência, não considerando tanto o que os outros esperam de
você", diz Savian. "Aqueles que são muito dependentes das opiniões
familiares sentem-se culpados por não atingir o padrão de comportamento
que lhes é cobrado, segundo o qual todos nós devemos nos casar para ser
felizes". Mas isso é verdade? Em 2010, foram registrados 977,6 mil
casamentos no Brasil -- mas, também, 243 mil divórcios.
E quando você ficar velho?
"Dizer que você vai envelhecer sozinho é um dos mitos favoritos para assustar solteiros", afirma DePaulo. "Mas o que me irrita nisso é como alguém pode garantir que o casamento não o fará morrer só". Marcella Almeida acredita que a verdade pode ser o contrário. "Nós nos perguntamos se não vamos precisar de um parente quando ficarmos velhos. Não. Em asilos, por exemplo, o sofrimento não é o de estar só, mas de ter sido abandonado pela família. A gente só se decepciona quando cria uma expectativa --por exemplo, de viver com os filhos e netos. E não é o que acontece com quem construiu uma velhice consigo mesmo", diz Almeida.
"Dizer que você vai envelhecer sozinho é um dos mitos favoritos para assustar solteiros", afirma DePaulo. "Mas o que me irrita nisso é como alguém pode garantir que o casamento não o fará morrer só". Marcella Almeida acredita que a verdade pode ser o contrário. "Nós nos perguntamos se não vamos precisar de um parente quando ficarmos velhos. Não. Em asilos, por exemplo, o sofrimento não é o de estar só, mas de ter sido abandonado pela família. A gente só se decepciona quando cria uma expectativa --por exemplo, de viver com os filhos e netos. E não é o que acontece com quem construiu uma velhice consigo mesmo", diz Almeida.
E isso é apenas opinião? Um estudo
feito em seis países com pessoas de 65 anos ou mais buscou descobrir se
solteiros sem filhos ficam sem uma rede de apoio na velhice. Homens que
nunca se casaram e não têm filhos tendem a ter redes de apoio mais
restritas do que outros. Mas o caso é o contrário para mulheres que
nunca se casaram nem tiveram filhos. Elas mostraram ter contato maior
com parentes, amigos e membros de grupos voluntários do que as demais.
Ou seja, entre elas --que têm expectativa de vida maior do que homens--,
a eterna solteira se preparou mais para uma velhice não solitária. "Ela
aprendeu que o contato com outro traz alegria, mas a dependência do
outro, não", diz Almeida.
Solteiros, sim, solitários, não
Solteiros podem realmente ser felizes com sua condição. Da mesma forma como compromissados podem ser felizes ou tristes. "Há solteiros que não desejam um relacionamento e outros inconformados por não encontrar alguém para se relacionar", diz Sergio Savian. "Paradoxalmente, notamos que o desespero para arranjar um par acaba atrapalhando muito, enquanto que, com a cabeça fria, aumentam as chances de se envolver."
Para verificar se o casamento realmente melhorava a qualidade de vida, um estudo da
Universidade Cornell, EUA, pediu a mais de 2.700 solteiros americanos
que avaliassem sua felicidade geral, seu contato com pais e o tempo
gasto com amigos. Passados seis anos, repetiram as perguntas.
Num primeiro momento, o estudo pareceu reforçar o lado bom do
casamento. Quem se casou ficou mais feliz do que quem ficou solteiro
--ainda que por uma pequena diferença. Mas há dois detalhes: primeiro,
os casados há menos de três anos estavam mais felizes do que os casados
por mais tempo, o que indica que parte da felicidade dos casados é um
efeito lua de mel. E mais. Aquelas pessoas que foram morar junto sem se
casar oficialmente eram mais felizes do que as que se casaram --e isso,
segundo os pesquisadores, indica que o casamento formal diminui o
sentimento de autonomia e de crescimento pessoal.
Agora, será que os solteiros são mais sozinhos? O estudo provou que
não. Aqueles que se casaram diminuíram o contato tanto com os pais
quanto com os amigos --independentemente do tempo que são casados. Ou
seja, em comparação com solteiros, casais acabam se isolando. E,
diferentemente da felicidade, esse isolamento é de longo prazo.
"Certamente não estamos dizendo que o casamento é irrelevante para o
bem-estar individual. O que descobrimos é que, levando em consideração
as diferenças individuais, o casamento está longe de ser uma prescrição
para o bem-estar", afirmam os pesquisadores.
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