As comparações fazem parte da natureza humana e servem, de certo
modo, para definir papéis e particularidades: fulano é mais alto do que
beltrano, meu salário é maior que o seu, a empresa em que trabalho é tão
boa quanto a sua. Até certo ponto, se comparar com os outros é normal
–o problema é que muita gente transforma essa ação em hábito, o que pode
ser prejudicial. Principalmente se a conclusão sempre sinaliza uma
posição de desvantagem para quem se compara. Se isso vem acontecendo com
você, confira a opinião de especialistas sobre o que esse comportamento
e saiba como lidar com ele.
Autoestima baixa
De acordo com a psicóloga Miriam Barros, especialista em terapia
familiar, psicodrama e coach, quanto mais insatisfeitos e infelizes
estamos com o que somos ou temos, mais comparações fazemos –e elas
incomodam. Para a psicóloga Denise Pará Diniz, coordenadora do Setor de
Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), a ação de comparar está ligada à competição.
"Quem sempre se vê em desvantagem em relação aos demais se coloca no
papel de vítima, de eterno perdedor. É um sinal de extrema insegurança, de quem não sabe valorizar o que tem, pois nem sabe o que tem", afirma.
Dica: o primeiro passo é ter um olhar mais carinhoso e
menos exigente sobre si mesmo. "Em vez de observar somente o que o
outro tem e você não, concentre-se nas suas conquistas e qualidades",
afirma Denise. O truque de colocar essa lista em um papel dá certo, pois
escrever funciona como uma espécie de validação inconsciente.
Inveja sutil
Todo sentimento de inveja é motivado por uma comparação –o invejoso
quer determinada coisa que o outro tem porque a julga melhor do que
aquilo que possui. A diferença é que o invejoso padrão não sabe lidar
direito com a própria frustração, mas se mexe para combatê-la. Para
atingir seus objetivos, pode apostar em atitudes positivas, como fazer
da dor de cotovelo uma motivação, ou em ações nocivas, como tentar
prejudicar o alvo de quem lhe desperta ressentimento. Já quem vive à
base de comparações, às vezes nem sabe se quer algo que pertence a outra
pessoa –só tem certeza de que o que tem é pior, menos valioso ou de
pouca importância.
Dica: segundo o psiquiatra José Raimundo Lippi, do
IDHL (Instituto de Desenvolvimento Humano Lippi), vale tentar
transformar a inveja em admiração. "Admirar algo ou alguém cria uma
motivação para evoluir, enquanto se comparar produz um sentimento de
inferioridade", diz. Essa evolução pode começar a partir de uma simples
pergunta: como faço para obter ou desenvolver aquilo que vejo de bom na
vida de outra pessoa?
Quanto mais insatisfeitos estamos com o que somos ou temos, mais a comparação vai incomodar
Autoconhecimento
Pode acreditar: enquanto seu olhar estiver direcionado para o que
acontece na casa do vizinho, nada vai melhorar. Por que? Porque você
sabe mais sobre a vida dele do que sobre a sua. "Colocar-se somente em
desvantagem revela que você vem valorizando apenas os aspectos negativos
da sua trajetória pessoal", afirma Denise. Algumas frases típicas:
"nada dá certo para mim”, “todo mundo ganha bem, menos eu", "nunca vou
ter um carro decente" e por aí vai. É uma visão genérica e superficial
que despreza os acontecimentos bons do caminho e as facetas positivas da
própria personalidade.
Dica: lembre-se das conquistas que teve e das
circunstâncias nas quais se saiu bem. Em vez de compará-las com as
experiências de outra pessoa, analise o que você fez –e como fez– para
que essas situações tenham dado certo.
Desvalorização do esforço alheio
Quem se compara demais costuma desenvolver um olhar fantasioso em
relação ao próximo –na maior parte das vezes, as conquistas alheias são
creditadas à sorte, e não ao merecimento. "A pessoa com a mania de
comparação não consegue enxergar o mérito e o empenho dos outros,
simplesmente porque não desenvolve tais características em si mesma",
diz a psicóloga Denise. "Ela se sente tão para baixo e tem uma visão tão
distorcida dos fatos que julga que as coisas caem do céu para todos,
menos para ela".
Dica: pergunte-se: o quanto de esforço tal pessoa
empregou para conquistar seus objetivos? Será que tenho disposição para
fazer o mesmo? Ou só estou enxergando os benefícios? Vale, também, ter a
humildade de chegar no outro e perguntar: "o que você fez?".
Aproxime-se e aprenda.
Comodismo
Há quem envenene tanto a própria vida com a comparação que deixa de
tomar atitudes importantes, que poderiam mudar sua rotina para melhor.
Um bom exemplo é o do executivo inseguro que tem um bom projeto na
cabeça, mas desiste de apresentá-lo ao chefe depois de ouvir as ideias
de um colega –muito mais originais e criativas, segundo sua perspectiva
distorcida.
Para os especialistas, as pessoas que vivem se comparando às outras
parecem não sair do lugar justamente porque preferem ser conformadas– reclamam demais e
se ressentem com aquilo que não é delas, mas não fazem nada para mudar.
"É cômodo ficar olhando para a vida alheia, já que a mente tenta, o
tempo todo, evitar o sofrimento. Mas essa atitude impede de encararmos a
nós mesmos e resolver os problemas e dificuldades que temos", diz
Miriam.
Dica: trace uma estratégia. Se deseja uma promoção no
emprego, por exemplo, avalie se precisa fazer algum curso, passar por
algum outro cargo primeiro, melhor o nível do inglês etc. "Não deixe de
analisar as necessidades emocionais e os recursos disponíveis para
atendê-las, como desenvolver a autoconfiança, ser mais otimista, ver o
lado bom das coisas", diz Denise.
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