segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Somos generosos por instinto

Sem pensar, as pessoas agem com mais generosidade do que se levassem algum tempo para refletir sobre a lógica de seu comportamento.
Contrariando a crença popular, a conclusão de um estudo recente sugere que nossos instintos nos levam a ser mais solidários que egoístas. Isso pode explicar porque os pedidos de doações feitos por telefone e porta a porta, que exigem respostas imediatas, tendem a arrecadar doações maiores que as mensagens por e-mail ou correio, que permitem que as pessoas parem para refletir antes de contribuir.
Da mesma forma, pessoas que realizam atos heróicos – como o homem que, há cinco anos, saltou na frente de um trem do metrô de Nova York para salvar um jovem que teve convulsões – muitas vezes tomam decisões altruístas em questão de segundos.
"Se analisarmos como essas pessoas descrevem suas ações, percebemos que elas se basearam sobretudo no pensamento intuitivo”, explica David Rand, cientista comportamental da Universidade de Yale, que conduziu o novo estudo em Harvard. "As pessoas dizem, 'não pensei, simplesmente fiz'”.
No best-seller "Thinking, Fast and Slow” (Pensando, Rápido e Devagar), o Prêmio Nobel de Economia Daniel Kahneman argumentou que a maioria das decisões ocorre devido à tensão entre dois tipos de processos cerebrais. De um lado, temos pensamentos rápidos e intuitivos, que costumam ser emocionais. O outro modo é mais lento, e permite um pensamento mais controlado e maduro.
Segundo Randy, até agora os pesquisadores tiveram que combinar os dois tipos de processos de pensamento de uma forma que explicasse como as pessoas se comportam.
"Imaginamos que as pessoas sejam intuitivamente egoístas, que o padrão é a sordidez e que só fazemos a coisa certa por meio da força de vontade e da repressão dos impulsos egoístas”, explica Rand. "Por outro lado, talvez nossa resposta automática seja a predisposição para a cooperação, mas em seguida, paramos para pensar e percebemos que o interesse egoísta vem primeiro".
Para descobrir que hipótese explica melhor como nossa mente funciona, Rand e seus colegas realizaram uma série de dez experimentos, que compararam o comportamento de pessoas que tomaram decisões imediatamente e outras que o fizeram depois de uma pausa.
No primeiro experimento, as pessoas foram divididas em grupos e receberam 40 centavos. Os participantes podiam escolher quanto gostariam de contribuir em uma urna comum, um valor que poderia ser dobrado e dividido igualmente entre quatro pessoas. Ninguém sabia quanto os outros contribuíram até que as doações fossem concluídas.
Nessa situação, a estratégia mais lucrativa é ser tão egoísta quanto possível. No entanto, se todos fossem generosos, o grupo como um todo poderia se beneficiar.
As pessoas que tomaram as decisões mais rápidas sobre quanto doar, segundo artigo dos pesquisadores na revista Nature, contribuíram com mais dinheiro para o bem comum. Os que agiram em menos de 10 segundos doaram cerca de 70% de seu dinheiro, enquanto os que levaram mais tempo colocaram apenas metade da soma original.
Em experimentos subsequentes, as pessoas que pensaram de forma intuitiva contribuíram mais que as que optaram por refletir mais. E as pessoas que foram aleatoriamente designadas para tomar decisões mais rápidas deram mais dinheiro que as que esperaram dez segundos.
Durante décadas, muitos especialistas presumiram que as pessoas são natural e automaticamente egoístas, afirmou Simon Gächter, economista experimental da Universidade de Nottingham no Reino Unido. As novas descobertas podem oferecer uma visão mais generosa da humanidade.
"A maioria das decisões que tomamos todos os dias são intuitivas, e muitas pessoas não pensam antes de fazer qualquer coisa”, explica Gächter. "Aparentemente, nosso instinto é apoiar o comportamento cooperativo em vez do egoísta. É um dado significativo”.
Apesar da tentação de tirar conclusões sobre a natureza humana, o estudo não conclui necessariamente que as pessoas são boas e cooperativas por natureza, destaca Rand. Ele comparou o instinto automático de ser generoso com o impulso de comer uma caixa de rosquinhas.
"Se você pensar sobre si mesmo em situações em que tem um primeiro impulso e depois para para pensar sobre ele, não está claro se o primeiro impulso se deve ao seu ‘eu’ verdadeiro”, instiga. "Você quer comer a rosquinha, mas depois pensa, 'Melhor não, rosquinhas não fazem bem para mim'. Que fala não é o seu verdadeiro eu, é o comedor de rosquinhas”.
Na verdade, podemos simplesmente aprender e internalizar hábitos cooperativos que ajudem a sociedade a fluir de forma mais harmoniosa.
De qualquer forma, o estudo reforça o que os arrecadadores de fundos já sabiam: mostrar a alguém uma foto de um órfão faminto tem mais chances de mexer com sua sensibilidade intuitiva e emocional. Já listas de fatos tendem a afastar potenciais doadores.
Para as pessoas que tentam se melhorar a cada dia, a mensagem talvez seja: é melhor resistir à racionalização e deixar seus sentimentos falarem mais alto.

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