Riscos exagerados
"As leis contra o casamento entre primos não estão fundamentadas pela ciência.
Na verdade, os riscos à saúde de se casar com um primo têm sido grosseiramente exagerados."
É o que garante o Dr. Alan H. Bittles, da Universidade de Murdoch, na Austrália.
E ele não fala por falar: o geneticista acaba de publicar um livro sobre o assunto, Consanguinity in Context (A consanguinidade em contexto, em tradução livre), ainda não editado no Brasil.
No livro, ele examina aquilo que chama de "equívocos comuns sobre o
casamento entre primos", do ponto de vista legal, cultural, religioso e
médico.
Casamentos entre primos
Não se trata de fazer alarde, diz o cientista: uma melhor compreensão
dos efeitos à saúde eventualmente decorrentes do casamento entre primos
pode significar leis mais adequadas sobre o casamento e melhor
assistência médica para casais primos e seus filhos.
O casamento entre primos é tabu em boa parte do mundo ocidental.
Mas não no Brasil. Aqui, segundo o Artigo 1.521 do Código Civil, é
proibido o casamento entre parentes colaterais até o terceiro grau -
tio(a) e sobrinha(o) -, mas os chamados primos-primeiros são parentes em
quarto grau.
Nos Estados Unidos, 31 dos 50 Estados proíbem o casamento entre primos, ou o permitem apenas sob determinadas circunstâncias.
A prática chega mesmo a ser incentivada em outras partes do mundo. No
Sul da Ásia e do Oriente Médio, por exemplo, entre 20 e 50% dos
casamentos são entre primos de primeiro grau ou parentes mais próximos
ainda.
Segundo dados do pesquisador, mais de 10% da população mundial está
casada com um primo de segundo grau ou mais próximo, ou tem pais que são
primos.
Charles Darwin e sua esposa Emma eram primos de primeiro grau. Os avós de Darwin também eram primos.
Riscos do casamento entre primos
As culturas onde se aceita o casamento entre primos defendem os seus
benefícios sociais e econômicos, tais como o fortalecimento dos laços
familiares e a manutenção da riqueza na família.
Já os opositores argumentam que o casamento entre primos de primeiro
grau aumenta o risco de transmissão de anormalidades genéticas.
Mas, para Bittles, 35 anos de pesquisa sobre os efeitos na saúde do
casamento entre primos levaram-no a acreditar que os riscos de se casar
com um primo têm sido muito exagerados.
Segundo ele, não há dúvidas de que as crianças cujos pais são
parentes biológicos próximos têm um maior risco de herdar doenças
genéticas. Estudos de uniões entre primos em todo o mundo sugerem que os
riscos de doença e morte precoce são de 3% a 4% mais elevados do que no
resto da população.
Mas, continua o pesquisador, os riscos se aplicam principalmente aos
casais que são portadores de desordens genéticas, que normalmente são
muito raras: "Para mais de 90% dos casamentos entre primos, o risco [de
ter um filho com uma anomalia genética] é o mesmo da população em
geral", disse ele.
Além disso, muitos estudos sobre os efeitos do casamento entre primos
não levam em conta a influência de fatores não-genéticos sobre a saúde
infantil, como nível socioeconômico, dieta materna durante a gravidez, e
infecções. "Muitos dos dados são extremamente pobres", disse Bittles.
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