terça-feira, 4 de setembro de 2012
Gordura faz câncer crescer e pode ser alvo de tratamento, dizem estudos
As células de gordura podem se tornar o mais novo alvo de tratamentos
contra o câncer. Estudos nessa área ainda são experimentais, mas
bastante promissores, pois há comprovação científica de que o tecido
adiposo - que reúne as células de gordura do corpo - ajuda no
crescimento dos tumores.
"Provamos ao longo dos últimos cinco anos que o tecido adiposo promove
diretamente o câncer, além do estilo de vida e da dieta já relacionados à
obesidade", afirmou o pesquisador russo Mikhail Kolonin, que trabalha
com essa linha de pesquisa no Centro de Ciências da Saúde da
Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
"Há alguns anos, essa era uma questão em aberto, e agora sabemos que é
um fato", completou o pesquisador, que veio ao Brasil para participar do
Simpósio Célula-Tronco na Biologia do Desenvolvimento e no Câncer,
realizado pelo Hospital do Câncer A.C. Camargo, em São Paulo.
Dentro do tecido adiposo, existem células-tronco adiposas. Quando um
tumor se forma, essas células vão até ele e contribuem para a formação
de vasos sanguíneos no local. Com isso, o câncer cresce mais
rapidamente.
A lógica serve para os tumores chamados primários, que se instalam antes
do processo de metástase - quando o câncer se espalha para vários
órgãos. Isso só acontece nos órgãos que têm contato com o tecido
adiposo, como intestino, mamas, próstata, esôfago e pâncreas. Onde não
há gordura por perto, como no caso do cérebro e do pulmão, o efeito não é
percebido.
Naturalmente, os resultados apontam para mais um aspecto da importância
de combater a obesidade para defender a saúde, mas não é só isso. A
descoberta também pode levar a um novo tratamento contra o câncer,
focado nas células-tronco adiposas.
Kolonin pensa em eliminar essas células-tronco com um medicamento
específico para os pacientes com câncer, na tentativa de evitar que elas
favoreçam a alimentação dos tumores. No entanto, o tratamento
precisaria ser bem dosado, porque a eliminação dessas células deve ser
apenas parcial, e não total, porque a gordura tem funções essenciais
para a defesa do organismo.
"O tecido adiposo pode fazer mal à saúde, mas também é essencial",
afirmou o cientista, que citou estudos em que camundongos com baixa
quantidade de gordura apresentaram saúde muito frágil e desenvolveram
doenças como diabetes.
A ideia ainda é vista como uma aposta, e somente novas pesquisas é que
poderão comprovar se é viável controlar o câncer atacando essas células.
"Ninguém fez isso ainda, acabamos de começar os primeiros experimentos
nesse sentido", explicou Kolonin.
A perda de peso comum entre pacientes com câncer, porém, não serve para
proteger o corpo contra esse processo. O tecido adiposo reduz de
tamanho, mas não perde muitas células-tronco. Além disso, o
emagrecimento ocorre nos estágios mais avançados da doença, depois que a
gordura já desempenhou seu papel no crescimento do tumor.
O pesquisador também considera perigoso fazer dietas para perder peso
após o diagnóstico de câncer, pois a falta de nutrientes poderia
acelerar o processo de migração das células adiposas para os tumores -
uma hipótese que sua equipe ainda não conseguiu comprovar.
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