Muita coisa mudou na vida das mulheres desde os anos 1960, quando as
feministas queimaram sutiãs em praça pública. Hoje elas mandam e
desmandam nas empresas e nos países, podem escolher se vão ou não se
tornar mães, esposas, donas de casa ou amantes e têm liberdade para
colocar em prática seus desejos na cama quando e com quem quiserem. Só
continuam com certa dificuldade para dominar as próprias emoções. E um
fato parece imutável: a ânsia de driblar o destino e saber o que futuro
lhes reserva ainda leva milhões de mulheres a recorrer à ajuda de
videntes, principalmente para saber previsões sobre o amor.
Vale tudo: astrólogos, cartomantes, quiromantes e especialistas em
búzios, anjos, cristais e outros tipos de oráculos. Não importa o
método, o importante é tentar descobrir quando o homem certo aparecerá,
se depois que apareceu há chance de o romance decolar, se o namorado
deve propor logo um compromisso mais sério, se a crise no casamento vai
passar, se existe outra de olho nele... Mas há algo por trás dessa busca
que, inicialmente, parece apenas ser um sintoma da típica curiosidade
feminina? E por que, por mais autossuficientes e poderosas que sejam as
mulheres modernas, elas ainda lançam mão de recursos sem comprovação
científica para lidar com a afetividade?
Para a psicóloga e sexóloga Maria Claudia Lordello, da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo), um dos motivos é a dificuldade em
lidar com a imprevisibilidade da vida, numa tentativa de eliminar a
angústia do não saber. “As pessoas são movidas pela vontade de tentar
controlar aquilo que é incontrolável. Há uma necessidade de combater a
ansiedade diante do desconhecido”, afirma. Para psicóloga Regiane
Machado Gomes, outra possível explicação é o anseio por segurança.
“Videntes, de um modo geral, trabalham com respostas prontas e oferecem
um mínimo de assertividade para as dúvidas dos clientes”, diz.
Dificilmente as predições vão anunciar algo trágico ou ruim demais. “É
diferente, por exemplo, de abrir o coração com uma amiga, porque ela nem
sempre vai falar o que você deseja ouvir”, afirma.
Regiane diz ainda que tais consultas também atraem pelo aspecto lúdico
da situação, que inclui símbolos, figuras míticas e mensagens, e que
investir nesse artifício só por brincadeira, sem muito envolvimento, não
faz mal. No entanto, desenvolver o hábito de condicionar ações e
opiniões àquilo que um vidente diz pode virar uma muleta emocional, pois
a pessoa deixa de se questionar para saber o que de fato quer.
Para a psicóloga Angélica Amigo, a imersão em um universo tido como
mágico é uma tentativa de desvendar os próprios mistérios e,
principalmente, esclarecer a dúvida: será que ele me ama?. "Ninguém mais
quer investir em um relacionamento se não houver uma segurança mínima”,
diz Angélica. Para ela, esse receio sobre o objeto de desejo é normal.
“A questão é que, em alguns casos, a mulher não precisa só de
respostas, mas também de aprovação. E muitas dúvidas surgem porque a
pessoa tem pouco conhecimento sobre si mesma”, afirma. Para Maria
Claudia Lordello, isso pode ocorrer porque buscar as respostas da vida
em algo externo é mais simples do que procurá-las internamente. "Fazer
uma autoanálise poderia trazer a consciência do que se espera e deseja
da vida, além de ajudar a lidar com as expectativas não realizadas",
diz. "Mas acaba sendo mais simples e confortável colher essas
informações fora de si”.
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